UMA TRAGICOMÉDIA DA VIDA REAL
Há coisas tristes na vida que acabam virando humor. Atemo-nos ao fato: em pleno sábado de dezembro, num maior temporal, raios caindo por todos os lados, entre relâmpagos e trovoadas, árvores caindo no fio, surge à escuridão.
Em meio à tempestade as famílias desesperadas rezam o terço, outras professam outros credos, há algumas que seguindo a tradição cantam músicas religiosas, tais como: Bendito louvado seja, é o Santíssimo Sacramento (bis). E também esta que minha mãe ensinou: uma excelência nesta rua há de passar, respondeu Virgem Maria, que nos queira abençoar, esta reza é reza santa, o trovão há de abrandar. Esta é miraculosa, é só cantar por 12 vezes seguidas, 1 excelência, depois 2 excelência e assim vai sucessivamente. O trovão realmente abranda. A saraiva vai diminuindo.
Diante de tantas orações e clamores a chuva cessa, as coisas aparentemente voltam ao normal, porém a cidade toda fica sem energia. Ficamos imersos na escuridão, iguais Zumbis, uma lanterna é acesa aqui, outra ali, há velas acesas por todos os lados. Forma-se um pisca - pisca com as chamas que ora acendem, ora apagam.
É festa de Santa Luzia e após o temporal alguns devotos, mesmo no escuro, participam da celebração da missa, outros participam dos cultos.
E os garotos fazem palhaçadas, amarram uma corda numa folha de capim e quando as pessoas passam nas ruas, puxam a cordinha assustando todo mundo com uma falsa cobrinha. Outras fazem com o dinheiro, colocam o dinheiro na cordinha e quando as pessoas abaixam para pegá-lo, vão puxando - o.
Agora, vamos ao fato, nada mais irônico e triste, que realmente marcou esta noite escura... É verídico.
Uma pessoa depois de participar da missa, ao chegar em casa, recebe uma ligação do hospital; é a secretária pedindo aos pais e familiares para pegar a moça drogada que está criando algazarra no hospital. Acompanhemos o diálogo:
O telefone toca: trim ... trim .... trim
O pai atende, fala alto e bem espaçado: A- - LÔ.
A secretária responde:
- Boa-noite! Com quem estou falando?
O moço responde: fala mais alto, não estou entendendo.
A secretária: O senhor é o pai da moça que está drogada?
O pai responde: Sou eu minha filha, mas ela não mora aqui não; ela nem gosta da gente; já estou velho pra tanta perturbação.
O filho mais novo, percebendo aquela discussão, pega o telefone da mão do pai e fala:
- Deixa que eu converso. Pode falar.
A secretária continua:
- rapaz, estou conversando com seu pai sobre sua irmã que está completamente fora de si aqui no hospital. Vocês podem arrumar um carro para pegá-la aqui?
O filho mais novo: não sei. Já fizemos tudo. Ela passou por mais de 10 clínicas de recuperação e não adiantou nada. Ela foge da clínica e disse que não quer melhorar; não sabemos o que fazer. Ela fica muito violenta.
A secretária retrucou:
- Mesmo assim, a família tem que arrumar uma clínica pra ela.
O filho mais novo:
- Nós estamos tentando arrumar, mais não temos condição.
Por fim, a secretária fala:
- Vou dar 20 minutos pra você arrumar o carro para pegá-la, senão chamo a polícia e peço pra deixá-la na porta da sua casa.
O filho mais novo:
- Vamos ver o que podemos fazer.
De repente, chega a irmã do meio, que é responsável pela garota e pergunta o que aconteceu. O irmão explica o acontecido e ainda faz piada, dizendo:
- olha já estamos no escuro porque não tem luz; vamos tirar a vela da sala, fechar a casa toda e deixar só a cozinha iluminada, quando a polícia chamar vai pensar que não tem ninguém.
A irmã do meio fala:
- Que absurdo! Cadê o telefone?
O filho mais novo:
- Já desliguei e escondi o fio do telefone; não sei onde liga mais.
A irmã do meio intervém:
- Isso não é certo. Liga o telefone agora.
O irmão mais novo sai correndo no escuro, dizendo:
- Não ligo, não ligo.
Então a irmã do meio pede para a sombrinha:
- Você sabe onde ele colocou o fio do telefone? Liga o telefone pra mim, por favor?
A sombrinha rir e fala:
- Eu não sei!
Como a operadora da Vivo estava fora do ar, estava funcionando apenas a OI, a filha do meio, tenta arrumar o carro, mas não consegue.
Então pede o pai o celular emprestado para ligar para o hospital; porque já fazia mais de 1 hora que a secretária tinha ligado e ninguém dava notícia.
O pai empresta o celular. A irmã pede para a cunhada ligar, porque a voz dela é conhecida.
A cunhada liga:
- Boa noite! Gostaria de saber notícia da moça que estava drogada ai na portaria.
A secretária responde:
- Já levamos pra casa dos pais.
O filho mais novo fala:
- Se a polícia chegar aqui com ela, quem vai acompanhá-la será pai.
O pai responde:
- Eu já estou velho! Não aguento isso não!
O filho mais novo fala:
- Ah pai, se o senhor ficar preso lá, vai ganhar um salário. O pai rir.
A filha do meio fala:
- Para com isso. Se ela chegar aqui, alguém tem que acompanhá-la até em casa; eu tenho pavor de viatura, prefiro ir a pé. Pensando bem, vocês duas que estão com estas toquinhas listradas na cabeça podem acompanhá-la, já estão com cara de prisioneiras.
A sobrinha responde:
- Qualquer coisa levo meu violão e canto umas modas para os presos.
Nisso o celular do pai toca...
O filho mais novo fala:
- Não disse para o senhor não emprestar o celular. Agora toda vez vai ligar no seu número.
O pai fala:
- Não tem problema toda vez que ligar, eu digo que estou no mato, pegando lenha.
A filha do meio já ciente da situação chega a uma conclusão:
- Bem, conversei com ela hoje; disse que a amava e que vamos ajudá-la.
Se ela não chegou até agora, é por que foi pra casa dela. Uma coisa é certa e vocês sabem bem, ela é muito esperta. É uma artista, toda vez que apronta se faz de coitadinha e chora pelos cotovelos; depois ela faz tudo de novo.
Vamos acalmar.
O filho mais novo resolve levar a noiva em casa e diz:
- A sua benção pai, já vamos! E sai de moto.
E não é que o espertinho resolve passar pela rua de baixo e ao olhar da fresta da porta da casa da moça que estava drogada diz: - a luz está acesa. Ela já está em casa.