Cinismo pro bem
Um grito:
_ AH DESGRAÇADO!
Uma resposta:
_ Ô FÉ DA PUTA!
_ Quanto tempo seu ordinário!
_ Come que anda este traste?
_ To tranqüilo, é... Mais ou menos, mas deixa pra lá, e você cume que tá?
_ Acho que to meio mudado!
_ Como assim?
_ Agora desisti de tentar qualquer coisa, lembra dos nossos planos? Pois então, já era, agora eu to aceitando tudo, não há porque lutar, eu tenho um emprego filé no escritório, atendo meus clientes, vou pra casa, dou um beijo de boa noite nos meus filhos que já estão dormindo, como minha mulher, tomo banho, como de novo, tomo outro banho, dou uma lambida, meto mais uma vez, tomo ba...
_ Ah rarra. Você nunca para de zoar né véi!
_ E você sempre me corta na hora que estou viajando na comilança, mas agora é sério cara, parei de mexer com política e protesto ou coisa assim, esse trem é perigoso, tem gente sendo torturada, você sabe disso, pegaram o Fabiano véi, nunca mais o vi, dizem que foi de acidente de carro, mas eu num acredito não.
_ Como foi?
_ Um caminhão bateu nele.
_ Mais isso acontece...
_ Que acontece, acontece, mas vale lembrar que é um ótimo jeito de matar alguém sem ninguém desconfiar de nada, é ou num é?
_ É
_ Além do que, eu desconfio que estão me perseguindo, então parei mesmo.
_ Também parei cara, agora que estou com namorada, pretendo casar e ter filhos, parei mesmo, vou sair fora, deixa o mundo do jeito que ta né, o Fabiano já se foi, eu não quero isto não!
_ Isso aí!
_ Mas mudando de assunto, que isto não nos interessa mais, como é que estão seus filhos?
_ Estão bem cara, brigam igual cão e gato, mas estão bem, um está na quarta série e o outro na primeira, aí você já viu né, só porrada, por conta de futebol, carrinho, pião, qualquer coisa é briga, estão dando um trabalho danado. Mas você não me disse que está namorando cara! Fala aí!
_ É amigo, gata viu, santinha, ainda nem beijei direito, ela tem vinte anos e a mãe dela ainda não liberou da’gente sair! A mãe dela é super conservadora!
_ Imagino...
Papo vai, papo vem e eles se despedem depois de muita conversa, passadas quatro horas e já ficando a noite, eles se falam ao telefone:
_ Aí Carlos, você acha que o dono do bar é mesmo o filho da puta que está nos perseguindo?
_ Acho não, tenho certeza, é mesmo o Lúcio, aquele dedo de ferro, ele trabalha pra eles cara, foi ele que denunciou o Fabiano, eu sei onde ele mora!
_ Será que ele caiu na nossa? Será que ele acha que agente parou de agir?
_ Penso que sim, porque depois eu o vi falando ao telefone com cara de satisfação, fazia como quem quisesse dizer que o trabalho estava acabado.
_ Beleza! Vamos continuar com nossos planos então, ABAIXO A DITADURA!