O NATAL CAPITALISTA
Não existe época do ano que fico mais emotivo. Choro à toa. Sei que o mundo está melhorando, no Brasil os jogadores profissionais fazem jogos beneficentes, existe a Bolsa Família, no interior os religiosos fazem rifas; as igrejas pedem doações, as pessoas de bem doam várias coisas... Mas isso não é nada sobre o que acontece na realidade.
O aniversário de Cristo foi transformado numa empresa do consumo. Estou nem aí pra quem quer consumir, que façam bom proveito, só que lá nos morros, nas favelas, ou mesmo em alguma casa remediada tem a televisão como empregada da empresa consumo. E ali mora uma, duas, mil, milhões de crianças. E não existe nada pior de se ver de que uma criança olhando um presente na vitrine! Nada!
Hoje fui premiado ou vítima de uma cena dessas. Parei nesses bazares “do parágua” que viram padaria ou boteco da periferia. Apareceu uma senhora com um pequeno saco de moedas de dez centavos trazendo consigo um menino de uns quatro a cinco anos. Pobres com certeza. Num palavreado que não entendi entre os dois, decidiram por um pequeno urso de pelúcia dependurado na porta, sinal que poderia ser até roubado pelo preço ínfimo. E a dona do recinto não achou de bom grado contar tantas moedas de dez centavos. Como segundo na fila, falei que não estava com pressa. Depois de contada as moedas, a dona disse que faltavam três reais e oitenta centavos. E a mãe do menino, com cara de gente digna, enfiando a mão nem sei aonde arrancou mais duas amassadas notas de dois reais. Na saída, o menino com cara de satisfeito, voltou o rosto e perguntou para a dona?
- O que ele faz?
- É de pelúcia. Respondeu com muita pouca vontade.
- ...
JOSÉ EDUARDO ANTUNES