Burconnis – O Reino caido
Prologo
Cavalgo há dias mais meus homens em direção de Burconnis, um reino devastado e em ruínas, ouvi dizer que abandonaram o local, não sei a quanto tempo desde que o Lord Toryenn foi assassinado por algo que chamam de Sued, um ser demoníaco que vive nas redondezas da Floresta Amarga, mas se não me falha a memória ouvi na taverna de Pepitor há alguns dias, que isso foi a alguns verões, mais ou menos 50 anos, o povo que lá vivia partiram para Hoásiver, terra prometida ao leste de Woorienys, lá se pode viver na paz dos homens, com fartura nos campos, animais gordos e toda a riqueza que poder encontrar, mas Burconnis que era o segundo maior reino, desde então é um nada, ninguém se atreveu a voltar aquelas terras devastadas pelo medo, nem mesmo os filhos do Lord Toryenn, nem mesmo a viúva, nem os aldeões, hoje um reino fantasma, já ouvi muito sobre o lugar, ouvi sobre coisas que lá residem, lendas, os mortais não voltarão, mas agora voltaram.
- Milorde? – diz o Comandante Robert com uma voz preocupada.
- Sim Comandante. – às vezes acho que Robert Riengg é pessimista de mais, pode ser de família, sua irmã é assim.
- Desculpe-me dizer, mas não acho que deveríamos continuar com a tempestade que esta vindo em nossa direção, vi uma caverna segura a uns 500 passos atrás de nós. – diz ele, enquanto me encara friamente, nada assustava mais que uma tempestade de neve no inverno das terras altas.
- Disse aos comandantes Heron e Poleivard que estaria lá em treze dias, e só nos faltam três. – respondo frio como o tempo daquela tarde.
- Milorde! O Comandante está certo. – diz Will interrompendo a conversa, seu olhar me lembrava o de meu pai, parecia que me tapearia se decidisse continuar.
- Me de motivos Will. Motivos além da tempestade. – não podia deixar passar o momento, Will sempre conseguia me impedir de algo, mas não hoje, pensei eu.
- Quer um motivo Lender? – dizia ele enquanto apontava o dedo para meu rosto. – Vou lhe dar dois, garoto. Se quiser chegar vivo a próxima taverna e se quiser chegar a Burconnis. – termina ele cuspindo no chão.
- Se esqueceu de quem sou Will? – o frio poderia ter me enlouquecido ao ponto de fazer esta pergunta, meus olhos queimavam vivos, meu sangue começou a ferver.
- Lamnor Lender! – grita Will. – Você é Lamnor Lender, mas não é Deus moleque. Não esqueça garoto, eu te vi crescer e vi seus pais morrerem, eu sei mais que ninguém quem você é, e isso não me impedira de cumprir oque seus pais me pediram. – responde ele exaltado, enquanto vinha com seu cavalo em direção ao meu.
O ambiente se silencia, Will para seu corcel e os outros me olham com temor, como se soubessem que prosseguir seria morrer, o tempo esfria mais, oque seria normal se não fosse o meio da tarde, olho para meus homens e penso. Era difícil discutir com Will, ele me ensinou tudo que sei, mas não ensinou tudo que sabe, além de tudo era difícil discutir com o medo, não vi outra escolha do que seguir ordens, quando eu deveria exigi-las.
- Comandante! – chamo Robert com voz imponente. – Nos leve até a caverna. – não vou negar que também estava cansado da viagem, e com tempestade ou não, estava morrendo de frio e fome.
- Sim Lorde Lender. – Responde ele enquanto abaixa a cabeça.
Sabem, há um motivo para Will ser o meu braço direito em Argar, capital de Woorienys, ele me viu crescer, e me criou depois da morte de meus pais, Will é um guerreiro Cruzado, do alto escalão dos exércitos Negros, e também o mais velho do grupo de viagem, não seria capaz de desrespeita-lo, e o pior é que ele sabia disso.
Cavalguemos exatamente 500 passos até a entrada da caverna, assim como disse Robert, ele era um dos melhores entre os cinco reinos quando se tratava de localização terrestre. A caverna era ampla, e se estendia abertura a dentro por mil metros, parecia que havia sido construída, não pela natureza, mas por algo, alguma coisa a fez.
Olho atentamente para Will e o chamo.
- Will, pegue dois dos nossos homens e vasculhe a caverna, não quero surpresas pela noite, o resto monte acampamento.
- Sim senhor. – responde Will, ele olha para um dos lados e chama dois comandantes, Mertine e Trevis para acompanha-lo. – Vocês dois, venham comigo.
- Comandante Riengg?
- Sim!
- Precisamos conversar.
- Algum problema senhor?
- Não! Quero dizer acho que não. – coço a cabeça, logo depois apoio a mão direita sobre minha espada.
- É de Redyni que quer falar, certo! – diz ele em um tom irônico.
- Sinceramente, prefiro não falar sobre isso. – não suportava esses assuntos com Robert.
- Não disse a ela que partiria, deveria ter dito, pelo menos ter mandado uma carta, assim ela seria uma puta com um cliente a menos confirmado. – diz ele enquanto ria sem discrição alguma, sua risada fazia eco na caverna, como se ele quisesse ampliar minha dor, assim como ampliava a risada nas paredes.
- Comandante, sei que ela é uma prostituta, mas ela é sua irmã. Às vezes penso que oque ela é e me fez, lhe faz feliz. – digo enquanto suspiro profundamente para não ter que usar a espada.
Robert me olha frio, logo depois se curva solenemente, e começa a rir novamente enquanto balança a cabeça negativamente.
- Sério! Você acha que ela dormiu com Pietro? – diz ele enquanto finaliza com um suspiro. – É isso que pensa de um amigo. – diz ele ajeitando a espada na cintura.
- Não! Nem mencionei nada Robert. – respondo dando voltas em torno do Comandante, parando e dizendo em seu ouvido. – Sabe que reconheço traição Robert.
- Realmente não mencionou. – diz ele, soltando em seguida uma risada para disfarçar o nervosismo. – Mas não posso negar que é engraçado, Redyni é uma puta, mas mesmo assim arrancou seu coração e ferveu em uma panela de ferro. – diz ele enquanto aponta repetidamente para meu peito, bem onde se localiza o coração.
- Por isso não daríamos certo. – a conversa é pausada por um grito, finalizo com um sussurro. – Ela não sabe cozinhar.
- Lorde, acho que deveria ver isto. – grita Will ofegante, como se houvesse acabado de encontrar ouro.
- Já estou indo Will – respondo com um grito e me viro dizendo. – E Robert, continuaremos esta conversa.
- Sim senhor! Você que manda Mestre Certinho. – diz ele após bater uma continência.
Viro-me e vou até o final da caverna, ando calmamente entre as paredes estreitas, o ambiente era escuro e poderia esconder mais do que Will e os outros haviam encontrado.
- Oque houve? Espero que seja importante. – não suportava ser interrompido quando estava prestes a bater em Robert.
- Isso. – disse Will apontando para alguma coisa.
Aproximo-me e não consigo tirar os olhos do que estava na minha frente, era como se estivesse hipnotizado de tão belo, sua cor, sua forma, seu brilho me fascinaram.
- Will, Comandantes, levaremos isso conosco, retirem com cuidado, parece frágil, tragam ao acampamento, mas enrolem em alguma coisa, não quero que vejam, ele é segredo nosso. OK?
- Sim! Lorde Lender! – responderam os três.
Volto até o Comandante Robert, para retomarmos a conversa, mas por algum motivo ele não queria falar sobre.
- Já chega Lender, não quero falar de minha irmã e seu romance fracassado com ela. – diz ele exaltadamente.
- Mas quero... – ele me interrompe e diz.
- Achei que não queria falar sobre, sei que aquela vagabunda lhe arrancou suspiros e dinheiro. Meu pai dizia que ela traria vergonha a família. Mas achar que esconderia uma traição, desculpe-me Senhor, me divertiria mais vendo seus olhos serem arrancados em uma batalha. Alias Senhor dos Senhores – diz ele enquanto se curva em zombaria. - Me perdoe pela minha insolência.
Robert se vira e saí, não interfiro, sabíamos que se continuássemos esta conversa, nossas espadas se cruzariam ali mesmo.
- Lender, a caverna esta limpa. – diz Will sem fazer com que pareça que havia encontrado algo importante.
- Ótimo! Vou buscar lenha para a fogueira, antes que a tempestade nos atinja.
Caminho até algumas árvores que havia por perto, alguns galhos do chão seriam impossíveis de usar, cobertos de muita neve, seriam difíceis até de se acessar, arranco minha espada e corto alguns galhos to alto, fazia isso com a espada de meu pai, incrível como ela não perdia o seu fio de corte, muito pelo contrario, ela parecia se laminar sozinha a cada golpe, mas parece que o assassino também alevou na noite que matou meus pais, gostaria de tela para me lembrar do que procuro a minha vida toda, vingança.
Junto uma quantidade aceitável para uma noite gelada, então volto para o acampamento.
- Pronto! Mertine prepare a fogueira, por favor.
- Sim senhor.
Sento em uma rocha na entrada da caverna, fico olhando para o nada, pensando no real motivo desta viagem, preciso medir as consequências já que alguns dos meus homens cochilam, outros conversam sobre a família que deixaram para trás, só para seguir meus passos, sem mesmo saberem se realmente voltariam vivos para casa e os outros, os outros simplesmente falavam de mim.
- Sabe Trevis, tenho um motivo claro para ser tão fiel a Lender. – diz Mertine enquanto preparava a fogueira – Ele nunca me obrigou a seguir suas ordens, mas sim sempre pediu, por favor, por elas, algo que um rei não precisa fazer. Não um rei como ele.
- Entendo Mertine, Lender não é só um rei, ele é um líder, puxou a nobreza e honra do pai. – diz ele enquanto retirava alguns utensílios da sacola.
- E a compaixão da mãe Margarety. – completa Mertine.
- Mertine? Acha que ele pode ter enlouquecido depois que sua esposa morreu, quero dizer, depois disso passou a se envolver com prostitutas, a se embebedar, e teve essa maldita ideia de ir a Burconnis. - diz Trevis.
- Ele a amava. - responde Mertine, se mantendo em silencio depois disso.
Nunca falei muito dos meus pais, nunca perguntei muito sobre eles para Will, mas sempre ouvi de como os respeitavam, alias não tive o privilégio de conviver muito com eles. Mas minha esposa Rise, ela foi o grande amor da minha vida, tenho certeza que oque houve aquela noite não foi um acidente e irei descobrir e me vingar.
- Lender! A fogueira milorde, ela esta pronta. – alerta Trevis.
- Então vou preparar o jantar dos cavaleiros. – respondi em uma leva de risadas.
- Lender, se você não fosse Lorde, pelo menos seria um ótimo cozinheiro real. – diz Will.
Durante o dia havíamos caçado alguns cervos na floresta de Beierdown, e sem querer me gabar, conseguia preparar a melhor carne ensopada de cervo de todo o norte de Woorienys, pensando bem seria um ótimo cozinheiro real se não fosse um Rei.
Todos se deliciam do ensopado quente e de um bom vinho, menos Robert, por algum motivo aquele desgraçado não bebia, ele comia de tudo, mas não bebia vinho, nem mesmo rum ou cerveja.
Todos satisfeitos, e com a tempestade forte do lado de fora da caverna, só nos restavam dormir e esperar pelo dia para que pudéssemos seguir até a Taverna de Breiggs, a taverna mais próxima de Burconnis, e onde encontraria Heron e Poleivard.
- Acho que devíamos desviar deste local. – disse Robert com medo nos olhos.
Mas não ouvi oque ele dizia, apenas continuei o caminho. Cavalguei mais meus homens floresta adentro, decidi seguir um atalho até a taverna, estava preocupado por se atrasar, nunca me atrasei a nada em toda minha vida, tudo bem que eu só tinha 21 anos.
(Craaac!)
- Ouviram isso? – resmungou Robert parando o seu corcel.
- Ouvir oque Comandante, às vezes acho que você é pessimista de mais. – responde Will.
- Mas eu ouvi um barulho, galhos se quebrando. – Robert estava inquieto, era como se ele quisesse voltar para o conforto da caverna, acender uma fogueira e dormir.
- Esperem! Onde esta Trevis? – pergunta Mertine.
- Ele estava atrás de mim. – diz Robert enquanto se vira desesperado. – Eu disse que havia ouvido algo.
Olhamos para todos os lados, não víamos Trevis, nem mesmo seu cavalo, já estava anoitecendo, agora todos começam a chamar por Trevis, mas ele não respondia a ninguém, então nos dividimos em dois grupos para procura-lo.
- Avisei sobre fazer um atalho por esta floresta, já ouvi histórias sobre ela. – reclama Robert.
- Ah sim! Claro, vamos encontrar oque aqui? Um Dragão das Terras Escaldantes, ah não espere, que tal um Orc, quem sabe um vampiro. – digo em tom de ironia.
- Lender! Isto é sério, mantenha a postura. – diz Will enquanto me interrompe com sua espada sob minha garganta.
- Desculpe-me, mas sabemos que Robert pode ser um dos melhores cavaleiros que já conhecemos, mas ele tem medo da própria sombra quando se trata desta floresta. Agora por favor, Will, pode retirar essa espada daqui.
Will tira a espada e a embainha novamente, o ambiente fica totalmente em silêncio, uma gota vermelha caí sobre minha testa, tiro as luvas e levo minha mão até ela, ao ver percebo que é sangue, olhamos para cima e não queremos acreditar no que vemos.
- Meu Deus. – diz Mertine enquanto recua com seu cavalo. – O que é isso?
- Isso Mertine, não parece, mas é o cavalo de Trevis. – digo enquanto desço de meu corcel.
- Como tem certeza? Quero dizer, isso nem parece um cavalo. – diz ele gaguejando de medo.
Esperamos que os outros dois grupos cheguem ao local, Robert está assustado, nunca tinha visto algo assim, nem mesmo em campo de batalha, até porque cortávamos alguns membros dos inimigos, mas não os moldávamos em espécies de casulos de carne.
- Oque houve? – diz Ronald enquanto olha nossos rostos assustados.
- Com calma, peço que olhem para cima. – diz Will tentando ser natural com a situação.
Todos olham, alguns não conseguem olhar por mais do que alguns minutos, Deyvh vomita todo o ensopado da noite passada, enquanto os outros recuam como se quisessem sumir dali.
- Oque é isso? – pergunta Deyvh enquanto limpa a boca.
- Este é segundo Lorde Lender, o cavalo de Trevis. – responde Mertine.
Um barulho sai de meio à floresta de gelo que havia em nossa frente, nos viramos, mas não vemos nada, em seguida escutamos como se ossos estivessem se abrindo, de repente o casulo que estava sobre minha cabeça se abre e de dentro cai Trevis sobre mim, deformado como se lobos houvessem consumido sua carcaça e deixado sobre seus ossos pouco de sua pele e carne, parecia que o casulo de cavalo servira para lhe dar um tipo de vida agora, uma vida maligna.
- Lord Lender! – grita Will – Saia daí, ele vai te devorar. – completa ele enquanto saca sua espada.
Levanto e tento correr, estou meio zonzo por causa da batida na cabeça, esta frio, e tudo está coberto por um tapete de nevoa, as árvores pareciam se mover de lugar, não conseguia me localizar direito, o silencio dominou o local, continuei caminhando, me sentia estar andando em círculos, estava fraco não podia simplesmente lutar contra Trevis, não contra aquilo que chamava de Trevis.
- Olá! Lamnor Lender. – diz a coisa.
Olho para depois da nevoa e não consegui ver nada, minha visão estava embaraçada, confusa. Mas ainda posso falar.
- Quem é? Oque fez com Trevis?
Um dos braços da coisa cai, logo em seguida caio de joelhos, indisposto a tentar lutar contra aquilo, mas eu tinha que sair dali, então me levanto lentamente segurando meu braço direito, sucessivamente arrastando a perna esquerda, meus membros estavam sendo corroídos pelo sangue que estava sobre mim, até que algo frio segura minha garganta, me levanta e diz.
- Quem você pensa que é pra entrar na minha floresta, acha que só porque é um Rei pode chegar aqui e passar com seus homens por mim sem um sacrifício? – diz a coisa com fúria, sua voz era demoníaca, de sua boca além de palavras ele também cuspia carne podre em minha face.
Não posso responder, não podia nem mesmo respirar.
- Responda-me humano! – grita a coisa ao me jogar contra uma arvore.
- Oque quer de nós? – pergunto enquanto volto a respirar.
Ele se aproxima de mim olha em meus olhos e responde. – De você? Oque eu preciso de você? Sua carcaça basta. – Logo em seguida uma flecha atravessa seu crânio, outra seu peito e varias outras o resto de seu corpo, uma espada arranca-lhe a cabeça, a coisa cai sobre mim, me desacordando.
Acordo em uma taverna, não sei qual, mas estou em um quarto do local, havia perdido um olho, uma das flechas haviam acertado meu olho direito quando a coisa caiu em cima de mim, não consigo me manter de pé, Will bate na porta.
- Sim! Entre. – respondo em voz baixa.
- Lender, está tudo bem? – pergunta Will com a voz tremula.
- Sim Tio, estou bem, tirando a falta de um olho e as dores estou bem – respondo descontraidamente para disfarçar a dor. – Não se preocupe comigo, Robert estava certo, não devíamos ter vindo por aquela floresta. – não me conformava com minha estupides.
- Sobrinho, acho que preciso lhe contar algo sobre Robert. – diz Will enquanto tossia, tentando disfarçar a frase.
- Como assim, cadê Robert e os outros? – pergunto em seguida me levantando da cama, cambaleio até meu tio, seguro em seus braços e completo com um grito – TIO!
- Robert e os outros, eles... – Mertine entra no quarto e chama Will. – Conversamos depois Lamnor, descanse. – completou Will.
- Tio? – pergunto desorientado. – TIIIO!
Não conseguia imaginar oque havia acontecido depois de ter desacordado, mas não havia duvidas, eu perdi meus homens para coisa, não havia só perdido um olho, eu havia perdido os melhores guerreiros que o Exército Negro já havia ouvido falar, eu perdi mais que isso, eu perdi meus irmãos de guerra.