Natal é Sempre Natal
Era 1940. Eu estava estreando no Natal, pois dos outros Natais anteriores eu não me lembro. Aquele Natal, para mim, marcou muito. O ano foi difícil para todos, e aquela bola vermelha que a metade era verde, foi o meu presente de Natal. E ela tinha um verniz tão forte e que de tanto dormir com ela, até hoje, depois de tantos anos sinto ainda seu cheiro gostoso. Quem afirmar que saudade não tem cheiro, não deve ter tido uma bola como a que eu tive.
Quando digo que todos tinham dificuldades é por que tínhamos uma Segunda Guerra Mundial em andamento, em quase toda a Europa. E todos temiam que ela pudesse chegar ao Brasil. Mas felizmente isso não aconteceu e o Brasil contribui no esforço de guerra com os aliados, enviando médicos, remédios e muitos soldados. Depois de muitos anos de conflito, festejamos, em 1945 o Natal da Vitória. E o mundo voltava a respirar em Paz.
Mas o Natal me convida sempre a participar dele.
Como em 1947, eu com 13 anos trabalhava num bar e café na Rua 13 de Maio, esquina com a Saldanha Marinho, em Campinas. Nesse Natal, o meu patrão, o senhor José Augusto Coelho transformava, no dia 24 de dezembro, o Bar numa Casa onde todos, fossem fregueses ou não, poderiam participar da alegria que alcançava a todos.
Portugueses, espanhóis, libaneses, turcos e brasileiros se irmanavam. Os violões, bandolins e clarinetes nunca faltavam e as suas músicas arrancavam lágrimas daqueles que um dia deixaram seus lares e nunca mais puderam voltar aos seus países de origem.
Em um relato a mim, um senhor português de 69 anos, o senhor Augusto Ribeiro, me disse: “...Este é o décimo ano que estou que estou longe do meu Portugal, mas amo o Brasil e não tenho a intenção de voltar pois a minha saúde já não me permite viajar. Mas esta festa que o José Coelho faz aqui no Natal, me transporta para a minha querida cidade de Bragança, no Nordeste de Portugal, perto da Espanha. A saudade me faz sentir até o perfume das plantas que minha querida mãe cultivava à beira de nossa porta..”.
Ai eu vi que o senhor Augusto Ribeiro era outro que afirmava que saudade também tem cheiro ou perfume.
Feliz Natal a Todos.