O Rombo do Infinito

Amanhece e você larga o lápis. Passou a noite sobre o pedaço de um velho pergaminho – o último da coleção herdada de sua bisavó – tentando descrever os anseios de seu coração. Mas não consegue compreendê-los.

O sol já está alto e ainda não sabe como terminar esta frase. Estrelas surgem e o texto inacabado ecoa em sua mente. Ele já virou um daqueles relacionamentos que você tenta reparar sem sucesso. Porém, está decidida: desta vez, não haverá abandono. Será?

Já se passaram meses, logo serão anos, e a sua rotina é a mesma. Desgastante. Ele se tornou a sombra de seu dia. Momentos que antes eram o ápice de seu prazer são, hoje, a parte desprezível e amarga de sua existência. Tenta livra-se dele, mas já faz parte de ti. De tua essência. É teu segredo obscuro. A parte funesta destas tuas oscilações entre amor e ódio.

Seria essa a hora de parar? Parar de acreditar no final feliz? Fazer do conto de fadas uma tragédia grega é a especialidade dessa versão macabra de si mesma que te persegue até na tua inconsciência noturna. Talvez deva recomeçar. Mas seu gênio não permitiria. Prefere trancafiar-se na prisão da depressão a ferir seus preceitos em prol da própria liberdade.

É... É hora de parar. Parar de escrever. Não tem mais conserto. Anos perderam-se em tua teimosia. Largue o lápis. Anseios e indecisões e confusões de teu interior já não podem mais ser respondidas. Ninguém entenderá essa tua louca obsessão em encontrar as respostas. Elas não existem: as coisas apenas são; as pessoas perdem-se no abismo da rotina. Aceite que essa história chegou ao fim sem realmente ter um fim, posto que nunca fora iniciada.

Além desse ponto de continuação existe apenas um despenhadeiro de linhas brancas que você nunca conseguirá preencher.