Estátuas peludas de sal
Um homem, dois cachorros e uma caçamba de materiais recicláveis, puxados pelo cansaço, param molemente no posto de gasolina. O rapaz dá um longo suspiro. A caçamba suspira. Os cães têm suas línguas a beira do chão.
-Posso usar o banheiro? - suplica o catador ao frentista, que rapidamente assente com a cabeça, torce o beiço e lhe dá um muxoxo.
Os animais ameaçam acompanhá-lo ao mictório, mas há um dedo em riste bem no meio do caminho.
-Fiquem bem quietos aí!
Eles obedecem petrificados. São duas estátuas de sal peludas e pulguentas coladas no cheiro de combustível: não respiram, não piscam. Tudo é espera.
Eu me afasto devagar do quadro com a certeza de que presenciei a tradução mais literal e poética de uma obra.
(Maria Shu - 17/12/14)