SER POBRE CUSTA CARO

ROUPAS: Jair ganha pouco, mas é controlado, sabe economizar, por isso resolveu comprar um paletó melhorzinho para ele, nada muito caro, só um pouco mais confortável, mais bem acabado. É a sua primeira vez na loja, não tem cartão fidelidade, por isso não tem desconto. Paga R$120,00 pelo paletó. Se não fosse pobre, certamente seria um cliente assíduo da loja, teria cartão VIP, acumularia pontos e pagaria menos. Hoje de manhã, por exemplo, Seu Mário (que tem um salário dez vezes maior que o do Jair) comprou um paletó igualzinho, na mesma loja, e pagou por ele R$75,00.

SUPERMERCADO: Raramente Jair consegue aproveitar as promoções e comprar alimentos não perecíveis, produtos de limpeza e outras mercadorias em maior quantidade para estocar, porque sua renda não permite. Já Seu Mário consegue, porque, além do seu salário dar e sobrar, ele tem uma despensa enorme em casa para estocar produtos em promoção, e, muitas vezes, como compra em grande quantidade, consegue descontos ainda maiores que os das promoções.

CARRO: E o carro do Jair? Uma cangalha. Todo mês tá na oficina. Ele quer comprar um novo, mas não consegue, porque os juros do financiamento são muito altos. Quando conseguir, já vai ter gastado uma fortuna em oficina e seu carro velho não vai valer nada. Seu Mário não tem esse problema, porque antes do seu carro começar a dar defeito, ele o troca por outro (pagando à vista, com desconto), e sempre por um zero quilômetro.

BANCO: Para manter sua conta bancária de pobre, Jair paga todas as taxas possíveis e mais alguma coisa; diferente do Seu Mário, que é isento de taxas, porque tem muitas aplicações, aposentadoria privada, títulos de capitalização e uma poupança gigantesca. E como se não bastasse, para conversar com o gerente, Jair é obrigado a enfrentar filas quilométricas, porque não tem cartão VIP, como o do Seu Mário, que dá direito a um atendimento rápido, café, suco, licor de amarula e massagem nos pés.

VIAGENS: Quando viaja para Porto Seguro ou outra praia do país que cabe no seu bolso, Jair não consegue nenhum desconto nas passagens aéreas, porque não tem milhas suficientes (viaja muito pouco); ao contrário do Seu Mário, que viaja até para o estrangeiro de graça, por causa das milhas que tem, e muitas vezes de primeira classe. (Já pensou? Primeira classe, de graça!). E Seu Mário, quando tem que esperar no aeroporto, fica na área VIP da companhia, onde come salmão e bebe vinho francês sem pagar um tostão. Já o Jair, se tiver que esperar, fica no corredor mesmo, encostado nas malas, e se quiser comer um pão de queijo com café, tem que pagar, no mínimo, R$25,00.

Pagamos mais quando ganhamos menos. Estranho? Não. Dificultar a ascensão social dos pobres faz parte da própria lógica do capitalismo, pois, do contrário, quem realizará os trabalhos extenuantes das linhas de montagem, da limpeza urbana, das faxinas, da construção civil, dos serviços gerais, etc., etc.?

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 17/12/2014
Código do texto: T5072459
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