Desprezando a metonímia
Dia de prova. Prova de química. Das brabas... O professor Hélio chegou mais cedo, protegeu-se com o alvíssimo jaleco branco, em cujo bolso a esposa bordara o nome do mestre, e foi preparar a sala. Separou as carteiras, distribuiu as provas e, na porta, esperou a chegada dos jovens, que já conheciam as regras: nenhuma pergunta, silêncio absoluto e, quando possível, a resolução das questões. O homem era reconhecidamente rígido. Prova sobre as carteiras, alunos a postos e Hélio autoriza o início com as tradicionais quase inaudíveis palavras: - Podem começar. Repentinamente, Flavinho quebra o protocolo e indaga, bem alto: - Professor Hélio, a prova pode ser feita com caneta vermelha? Ao silêncio já clássico somou-se o assombro, pela ousadia. Mas o mestre saiu-se com esta: - Pode, sim, meu filho. A caneta pode ser de qualquer cor. A tinta é que tem de ser azul.