Graças à Madalena
No ensino médio, cursando o científico, eu costumava repetir aquela frase tão conhecida de todos os alunos, ou pelo menos da maior parte deles: “Português não é o meu forte”. Confesso que nunca assimilei com facilidade as conjugações, as regências, as concordâncias, enfim, a infinidade de regras que regem a nossa língua.
Se me mandavam fazer uma redação, a primeira coisa que me vinha à mente era: 1) fazer uma rápida abordagem do assunto no primeiro parágrafo; 2) fazer o desenvolvimento no “meio”; e 3) no último parágrafo fazer a conclusão. E isso me preocupava tanto, eu tinha tanto trabalho em verificar se estava seguindo corretamente o “modelo”, que esquecia que a idéia base de um texto é a transmissão da mensagem.
Mas eu gostava de escrever! Tinha facilidade em, por exemplo, redigir cartas, talvez porque as cartas não me impusessem nenhum padrão. Eu tinha idéias boas, tinha vontade, mas na hora de redigir a redação eu esquecia tudo e me agarrava ao bendito “modelo”.
Não lembro se foi em 1992 ou em 1993, mas lembro que eu estudava no CERú Luiz Gonzaga Duarte, na cidade de Araripina/PE, e tinha como professora a querida Madalena. Era um prazer assistir às suas aulas, ela conseguia nos transmitir esse sentimento, pois ela mesma se esbanjava de amor pela profissão, pelo Português, pela Literatura. Sim, Madalena é um exemplo de profissional dedicado e apaixonado pelo que faz.
Certo dia, ela nos pediu que fizéssemos uma redação, e a primeira coisa que me veio à mente foi o “modelo”. Só que Madalena fez diferente, ela nos disse que escrevêssemos o que quiséssemos e como quiséssemos. De repente, eu me vi sentada numa carteira de sala de aula, com uma professora de Português na minha frente, um caderno e uma caneta em mãos e uma redação por fazer. Mas era diferente, pois eu não lembrei mais do tal “modelo”. Agora, eu podia escrever da forma que quisesse, tudo o que eu quisesse, eu estava livre, e acho que essa foi a sensação que me marcou naquele momento: LIBERDADE.
Minha mente viajou, e eu passei para o papel coisas que nem eu mesma sabia ser capaz de fazer. Esqueci regras, modelos, ordens, e transcrevi o que minha mente pedia.
O texto foi Realidade, e nele eu descrevi a dura e difícil vida de uma família que vive na seca cruel do sertão nordestino. Ao passo que eu escrevia, eu ia me sentindo dentro da história e as idéias iam surgindo mais e mais, cada vez mais claras. Pela primeira vez, eu tive a oportunidade de pensar somente no que eu queria escrever e não em como queriam que eu escrevesse.
Entreguei a redação à Professora e fiquei ansiosa pela nota, mas era uma ansiedade diferente, pois o que me importava não era a nota em si, e sim, o que a Professora iria achar de minha LIBERDADE DE ESCREVER.
Pelo sorriso que vi nos lábios da doce Madalena na hora em que ela me entregou a folha, senti que ela não havia se zangado, nem havia julgado “errada” minha nova forma de escrever.
A nota foi a máxima, e o maior prêmio foi ver a linda letra da minha querida professora formando uma única palavra: Ótimo!
Depois dela eu tive outra professora que também elogiou meu jeito de escrever, a Jussiara, que foi minha professora na Emaaf, no curso de Contabilidade. Um dia ela me disse que eu tinha uma forma muito clara de me expressar através da escrita, que eu tinha o que podia chamar de “talento” ou “dom da escrita”.
As palavras da Professora Jussiara me ajudaram a investir mais em minha capacidade, porém, a Professora Madalena foi quem primeiro me permitiu penetrar na mente na hora de escrever, e isso me deu asas, e me fez conhecer este novo horizonte, onde entre eu e o papel não há regra, nem “modelo”, somente LIBERDADE.