Mamãe e eu numa festa de gala. Eu, com 20 anos, o olhar assustado, já denunciando minha preocupação com o fim do mundo.                 
                    
 
 
                                          
 
 
 
                                      
 
 
                                      
 
                                         UTOPIA
 
 
                  Ando relendo meu filósofo favorito, o inglês Bertrand Russell. E como sempre digo, não resisto em passar para os amigos e amigas minhas impressões do que leio, mas sempre citando as fontes.   Qualquer pessoa normal, quando vê algo bonito ou algo importante tem o ímpeto de mostrar para os outros. 
                 A filosofia não serve para fazermos descobertas sobre o que estamos fazendo aqui neste pequenino planeta terra.  Mas serve para nos dar alguma cultura geral e ficar sabendo do esforço de tantos sábios, procurando uma explicação para a vida. Na conversa de hoje, que espero seja rápida, para não cansar os leitores, deparei-me com a utopia de Tomas More, escrita em 1516.        
               Utopia, como sabem, vem do grego U, que significa não e topos, designando lugar. Portanto, não lugar, lugar não existente. Essa ideia utópica vem desde Platão, na obra “República”.    Confesso, envergonhado, que conhecia o homem de nome,  mas não havia lido nada dele. Através do Russell, soube que ele imaginou uma cidade perfeita e um dos temas dele era o de que deveríamos impedir o crescimento das cidades (o que venho falando aqui há tempos e sem saber que o More também tinha essa preocupação). A população teria que crescer até um certo ponto, passado um determinado limite, as pessoas eram convidadas a irem para outras cidades. Com humor, o Russell nos diz que o More não revelou o que fazer quando todas as cidades estivessem no limite máximo. O que já ocorre em nossa época.
                  Eu já estava tendo a ideia de colocar um bilheteiro na porta da cidade onde moro, exatamente para impedir o excesso de gente. No máximo, esses visitantes seriam conduzidos até o belo jardim da cidade e poderiam sentar-se nos bancos da praça, com direito a chupar um picolé de limão, vendido pelo sorveteiro da cidade, o José, filho de alemão, mas que prefere ser chamado de   De La Madrid.  Mas tive outra ideia mais brilhante, penso eu. Os bilheteiros, os governantes e todos aqueles que lidassem com dinheiro do Estado teriam que ser robôs, para garantir a honestidade. Nada que a tecnologia moderna não possa fazer.  Penso que nem preciso explicar a razão desta iniciativa.  Ou ainda preciso?
                  O problema, disse um amigo meu, é que pouco a pouco os seres humanos seriam substituídos pelos robôs, tanto na família, como no comércio, criando-se um ambiente de total honestidade e autenticidade. E o amigo lembrou:  aquele cientista que está numa cadeira de rodas, o Stephen Hawking, já andou prevendo um mundo só de robôs, uma vez que eles se revoltariam com a bagunça do ser humano.
                  Não vejo mal nisso, respondi. Alguém já disse que sempre vivemos  entre dois infernos: o inferno socialista e o inferno capitalista. E pra completar há um cinismo reinante, que ninguém aguenta mais.   Afinal, diante do que estamos presenciando, seria uma saída  econômica e elegante para a humanidade. E o planeta agradeceria.  Haveria um segundo big-bang, mas desta vez festivo, parecido com o espetáculo de fogos do dia 31 de dezembro. Uma bela festa da natureza para o fim da triste humanidade.