Dorinha e Dudu 
Por Carlos Sena 

 
 
Dora faleceu de infarto violento. Estava ela na casa da minha mãe quando se sentiu mal e já chegou quase morta no hospital. Choque. Tentativas diversas de reanimação, mas nada. Desolação entre os familiares, porque Dora (uns chamavam de Dora, outros de Dorinha) era uma pessoa cativante, carismática, dessas que você olha e não sente maldade no seu coração. Amante da vida como poucos; lutadora por ela como poucos! Mas, a morte não escolhe seus eleitos e talvez a nós, humanos, falte a devida preparação para compreender a vida e a morte como processos naturais. Fato é que Dora, em questão de horas se foi pro outro lado da eternidade. Restava-nos tão somente, avisar seus filhos e demais parentes e transladar o corpo para sua e nossa cidade de Bom Conselho. A família veio fazer os procedimentos de praxe e conduzir o corpo pra o interior. Durante a viagem Luiz, o marido de Natalia e pai de Eduardo e  Maria Eduarda se lembrou, em tempo, que seu filho Dudu (Eduardo) dois dias antes da morte de Dora (sua avó) se saiu com essa "pérola" espiritual: "se a professora perguntar por quê eu faltei a aula, diga que eu fui pro enterro da minha avó"! Ainda no carro nós pedimos pra ele, Dudu, repetir essa fala, mas ele se recusava. Insistimos, mas ele novamente recusou. De repente ele se sai com mais uma pérola: "isso já é passado, vamos cuidar do futuro"! Eu, dirigindo estava e continuei. Mas, não me saiu da cabeça aquela "aula" de espiritualidade através de uma criança com seis anos de idade! Quem não quiser acreditar na comunicação espiritual, tem todo o direito. Mas que há motivos de sobra para acreditar, há. 
Dora foi encerrada - prefiro encero a enterro, pois quem viveu como Dora não precisa ser enterrada, mas encerrada em sua luta e dignidade por amor a vida. Voltamos a Recife com a certeza e a convocação de que a "vida é um ai que mal soa"... Luiz Eduardo (Dudu) ficou lá jogando bola e se divertindo pra valer com seus primos... Ele sabia que era o xodó da sua avó!