DIA NACIONAL DO SAMBA

DIA NACIONAL DO SAMBA

BETO MACHADO

“Quem ama não tem que procurar saber a razão por que ama”. Primeiro verso do samba que ecoava nos ares de Osvaldo Cruz, vindo lá das bandas do BURACO DO GALO, assim que aportei na estação de trem.

Mas o trem que embalou a mim e uma ruidosa massa desde a CENTRAL DO BRASIL até à plataforma da estação divisora de águas do samba da região da GRANDE MADUREIRA, e é só relembrar o partido alto de CANDEIA: “Vai pro lado de lá / Vai pro lado de lá / Vai pro lado de lá pra sambar / Me leva pro lado de lá”, não era um trem comum. Era o TREM DO SAMBA.

O DIA NACIONAL DO SAMBA teria sido comemorado no dia 2 de dezembro, porém, só hoje, sábado 6 de dezembro, por determinação da Super Via, concessionário de transporte ferroviário urbano do Rio de Janeiro, o símbolo mais midiático de um EVENTO SÓCIO-CULTURAL do povo carioca, pôde circular transportando alegria e muita gente bamba.

O TREM DO SAMBA foi uma felicíssima sacada do cantor e compositor MARQUINHOS DE OSVALDO CRUZ. Ele e sua equipe transformaram uma idéia óbvia num estrondoso sucesso.

Aí o PODER PÚBLICO viu-se incomodado por não estar inserido nesse contexto e mergulhou de cabeça na organização, substituindo o que os sambistas entendiam como naturalidade gratuita pela sanha arrecadadora fantasiada de ORDEM PÚBLICA.

Mas a ordem do rei é sambar... E o samba não tem apenas um rei. De vários cantos dessa cidade já surgiram bambas que o povo elegeu à categoria de “rei”. A Vila elegeu NOEL; a Mocidade TOCO e SERAFIM; o Império SILAS e MANO DÉCIO; a Mangueira CARTOLA, NELSON e GERALDO PEREIRA ; o Estácio ISMAEL e WILSON; o Salgueiro GERALDO BABÃO.

É evidente que todos esses bambas beberam da água da moringa da santíssima trindade que benzeu a raiz dessa bendita árvore que é o SAMBA. Salve SINHÔ! Salve DONGA! Salve PIXINGUINHA!

Voltando o foco ao evento tentarei passar aos leitores parte da minha emoção quando das minhas andanças pelos vagões do TREM DO SAMBA. Vi integrantes das três gerações da Família DINIS: JULIANA, MARQUINHOS, MAURO e o Patriarca, MONARCO, recebendo de MARQUINHOS DE OSVALDO CRUZ justíssimas reverencias e homenagens. Um rito pra ficar marcado. E os sambistas cantaram ordeiramente durante todo o trajeto até desembarcarem numa terra de dois grandes reis: PAULO DA PORTELA e CANDEIA.

No BURACO DO GALO o samba tava comendo solto. O grupo musical PEGADA DE MACACO brindava a galera com aquelas pérolas que as velhas guardas costumavam presentear a mocidade do seu tempo. E o povão interagindo empolgadamente, já dava o tom do que seria a noite-madrugada. A euforia geral parecia complementar o que deixou de ser feito, no que tange a comemorações do DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA, visto que essas datas se integram substancialmente.

Lembrei que no Bar do Cabral também se formaria uma roda de samba. Parti. Passar pela multidão no entre o BURACO DO GALO e a passarela da estação se aproximava da intransponibilidade, mas não dei tratos à bola. Fui na ginga da malandragem, de frente, de lado, na manha do gato, sem esbarrar em ninguém.

O pensamento me levou, não sei porque cargas d’água, a refletir sobre a decisão unilateral da Super Via, a revelia dos demais interessados, de transferir do dia 2 para 6 de dezembro, um sábado, o evento do TREM DO SAMBA. Achei muito estranho a falta de debate sobre o assunto antes da tomada da decisão final. Posto que estava em pauta interesse público. Logo, uma empresa privada não me parece legalmente autorizada para emitir normas cujas orientações interfiram no calendário cultural já tradicional na vida da cidade, normas essas que atendem tão somente os interesses da empresa.

Mas o SAMBA é osso duro de roer. Vai passando por sobre todas as dificuldades que se lhe apresentam. Só não me furto o direito de um alerta: ---Meu filho economista me disse, tecnicamente argumentado, que a preocupação prioritária de uma empresa privada é adquirir lucro.

E, para meu deleite, o samba do lado de lá tava tão bom quanto o do lado que inspirou o MESTRE CANDEIA cantar "DE QUALQUER MANEIRA".

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 13/12/2014
Reeditado em 13/12/2014
Código do texto: T5068106
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