É ASSIM QUE O TRABALHO ENOBRECE O HOMEM

Na casa lotérica o atendente diz ao próximo da fila "Bom dia, como vai o senhor, em que posso ajudá-lo". O balconista pode ser de origem humilde e mal acostumado a tratar as pessoas bem que o trabalho faz nele uma transformação. Ele leva para casa a cortesia que se obriga a aplicar na labuta e por lá ele propaga entre os moradores da casa e da região a programação gentil que seu comportamento ganha.

O próximo da fila mencionado pode ser um homem estúpido, grosso, menos ainda acostumado a ser tratado bem, que está sempre preparado para dar respostas amargas a qualquer um que o cumprimentar, sempre a imaginar estar a lidar com alguém do mesmo nicho que o seu e que ele sabe bem como é o relacionamento padrão. Os homens estúpidos são, certamente, surpreendidos nessas situações é é frequente eles se acometerem de uma reação nada parecida com a que estão familiarizados. Eles resistem nas primeiras vezes que lidam com a prestatividade, mas a repetição da cena acaba os vencendo.

Os atendentes que fazem corretamente e com grande cortesia seu trabalho conseguem fazer uma transformação nas pessoas brutas. E esses vão para casa predispostas a realizar a mesma contaminação que os atendentes realizam em seus meios.

Às vezes a gentileza é ouvida via telefone. Emana de um representante de atendimento de uma companhia que opera telemarketing. Os bem treinados telefonistas são dados a utilizar de muita educação. Acabam desarmando e baixando as guardas dos clientes das empresas que eles representam. Muitos furiosos por terem que contestar cobranças indevidas ou reclamar de serviço que não funciona. As ocorrências contrárias, a não submissão do cliente à simpatia, por mais que aconteçam, tendem a diminuírem graças à contaminação que irradia quem entra em contato com a gentileza alheia.

Dá para imaginar um jovem acostumado com rap e com funk tendo que bancar em seu primeiro emprego o praticante de cortesia? Hoje em dia o primeiro emprego é quase sempre o telemarketing. Ou senão o oposto: em sua iniciação no mundo dos adultos, tendo que sair para pagar contas, ser atendido por alguém em um guichê e ouvir um "por favor, senhor" em vez de um "E, aí, zé" ou coisas asquerosas do tipo? Com poucas doses o marginalizado é engendrado e passa a ver que a vida é melhor em um círculo onde todos se respeitam em todos os sentidos, inclusive no linguajar. Ele vai até ver mais graça em conhecer uma garota, constituir família e ser responsável do que levar a vida na clandestinidade, sem paz e escravo das drogas e do barulho. Barulho que ele faz uso para atormentar as pessoas, sendo financiado para isso pelos inimigos da ordem sedentos de poder e necessitados de ter o controle mental das populações. O excesso de ruídos que presenciamos em nosso cotidiano visa atormentar mentes e tomar o controle das ações que elas podem se dignar a proporcionar.

E todos nós, aos poucos, nos contaminamos com a bondade que é espalhada nos balcões, nos postos de atendimento, pelos telefonemas dos serviços de SAC. E aos poucos, também, as sociedade urbanas se modificam. Tornam-se mais amáveis os membros delas. Mais mansos, cooperativos, amorosos e motivados. Mais felizes com a vida, dispostos a trabalhar e a cooperar um com o outro.

E tudo isso graças ao trabalho. O trabalho que obriga o trabalhador a agir com presteza e delicadeza para garantir a satisfação do cliente e o próprio sustento. E não precisa ser necessariamente uma relação pública da área do atendimento.

Se fosse possível ver um nobre em uma fila para pagamento na frente de um mendigo, os operadores de gentileza não os distinguiriam. Dariam o mesmo tratamento para ambos. Talvez, apenas o mendigo iria se sentir agraciado, por nunca ter lidado com o quadro agradável. Espera-se, quanto ao nobre. que a ocasião seria indiferente. Ele não se incomodaria de estar a parecer em pé de igualdade com o paupérrimo se estivesse em uma fila pública. O meio em que vive depende de harmonia para sobreviver. Por essa razão o nobre não estranharia a falta de nuance desse tipo no ambiente que não lhe é nato.

Essa particularidade da gentileza nenhuma outra virtude supera. Portanto, para uma comunidade prosperar e operar em igualdade fraterna, basta promover a gentileza. Isso pode ameaçar o sistema vigente, que não gosta nada nada de as pessoas se tratando bem umas com as outras. Agradabilidade gera harmonia, ordem, paz. A sociedade democrática capitalista precisa de desordem para funcionar e manter o status quo dos gatos pingados que se fartam com ela. Os governos reinantes nos meios capitalistas governam com a ajuda do caos. É por isso que na tevê se vê sempre a miséria e a violência em destaque, a futilidade e a competição em evidência e o sorriso nos lábios dos apresentadores de telejornal e dos artistas ao empenharem-se para lhes dar sustentação. É por isso que dão prioridade de incentivo às notícias ruins na mídia, quer seja na imprensa, quer seja na dramaturgia. E é com essa amargura que contribui quem está sempre a dar ouvidos para os que representam esses cavaleiros do miserê humano.

Se você quer derrotar o sistema que o mantém infeliz e passar a ser bem feliz: seja gentil e pratique o silêncio! E só dê importância para afazeres úteis e que não priorizam disputas ou distúrbios. Só depende de você atingir e conservar essa realidade.

"Viva mais da sua imaginação e menos da sua história"

(Stephen Covey)