Gautama e os Duendes Verdes de Brasília ou...
(... Crônica delirante em um país que não se sabe se existe ao sul da imaginária Linha do Equador).
Leio estarrecido em um folhetim de elevado gabarito de minha reluzente (e quente) capital tropical, encravada a 200 km de Brasília (que os ventos de lá não nos deprimam por cá), que foi preso pela polícia um falso construtor de piscinas.
Vamos à técnica do distinto meliante: ele recebia cheques da vítima (um bom adiantamento), justificando que deveria comprar todo o material. Apresentava argumentos e referências e, pelo visto, devia possuir elevada capacidade de convencimento. Seus orçamentos derrubavam qualquer outro da concorrência.
A vítima, louca para dar um mergulho em mansas águas no fundo de seu quintal, sorria diante da inesperada “pechincha” e soltava cheques. Um deles, ou dois, sempre caíam antes de iniciada a obra, ou outros eram trocados ou soltos assim mesmo. O meliante voltava e ainda deixava no canteiro da vítima alguns materiais baratos: tijolos ou canos, pelos quais depois a pessoa poderia argumentar: entrei, literalmente.
Quando o tempo escorria pelas ladeiras da vida, a vítima desconfiava que havia sido enganada. Ligava para um telefone que ninguém atendia, corria ao banco e verificava que seus cheques já haviam voado direto para o bolso do espertalhão. O que fazer a não ser chorar, entrar pelo cano que lhe foi deixado e mirar, nas entranhas da mente, aquela piscina fantástica, que ficou no projeto, que nunca será...
Não se espante o leitor. E o que dizer das obras da Gautama (Buda deve estar se revirando em algum ponto além da imaginação)? Pontes que ligam o nada ao lugar nenhum e que servem para coisa nenhuma? Coisa nenhuma, não. Logo e prontamente eu me questiono: encheram os bolsos dos meliantes do Planalto Central. Estes, de colarinho em riste, branco como a pura neve, não se envergonham de suas obras monumentais, que ao lado das piscinas de ilusão, constituem monumentos esdrúxulos ao descaso pela ética, pela verdade e pelo bem comum.
Vem a polícia e prende, vem o “habeas corpus” - um duende verde criado pelos modernos legisladores, que com sua varinha mágica liberta os gênios das caixas de Pandora. Ficam eles então, ao lado do presidente do Congresso, que nada recebeu, nada viu, nada pagou a não ser o que pode ser provado pelos documentos X,Y, delta e Z, que sem ser mostrados, comprovados e atestados já o isentam de culpa. Digo e repito que devemos retirar os carpetes de Brasília. Aquela eletricidade estática que deles emana ao caminhar-se com sapatos de couro italiano, congela as fibras da ética.
Corações brasileiros: miremos a imagem do Cruzeiro, que nosso país de obras supostas e sobrepostas continuem superfaturadas: o universo nos admira. Libertem o homem das piscinas, ele nada mais fez do que copiar uma escola que há muito avilta os bolsos pátrios. Torna-se assim como um pobre ladrão de migalhas. Quero saber qual a grade que deterá aquele que construiu as pontes, as estradas, as escolas, as represas que não existem, ou que existem, mas que ninguém sabe onde estão?
(... Crônica delirante em um país que não se sabe se existe ao sul da imaginária Linha do Equador).
Leio estarrecido em um folhetim de elevado gabarito de minha reluzente (e quente) capital tropical, encravada a 200 km de Brasília (que os ventos de lá não nos deprimam por cá), que foi preso pela polícia um falso construtor de piscinas.
Vamos à técnica do distinto meliante: ele recebia cheques da vítima (um bom adiantamento), justificando que deveria comprar todo o material. Apresentava argumentos e referências e, pelo visto, devia possuir elevada capacidade de convencimento. Seus orçamentos derrubavam qualquer outro da concorrência.
A vítima, louca para dar um mergulho em mansas águas no fundo de seu quintal, sorria diante da inesperada “pechincha” e soltava cheques. Um deles, ou dois, sempre caíam antes de iniciada a obra, ou outros eram trocados ou soltos assim mesmo. O meliante voltava e ainda deixava no canteiro da vítima alguns materiais baratos: tijolos ou canos, pelos quais depois a pessoa poderia argumentar: entrei, literalmente.
Quando o tempo escorria pelas ladeiras da vida, a vítima desconfiava que havia sido enganada. Ligava para um telefone que ninguém atendia, corria ao banco e verificava que seus cheques já haviam voado direto para o bolso do espertalhão. O que fazer a não ser chorar, entrar pelo cano que lhe foi deixado e mirar, nas entranhas da mente, aquela piscina fantástica, que ficou no projeto, que nunca será...
Não se espante o leitor. E o que dizer das obras da Gautama (Buda deve estar se revirando em algum ponto além da imaginação)? Pontes que ligam o nada ao lugar nenhum e que servem para coisa nenhuma? Coisa nenhuma, não. Logo e prontamente eu me questiono: encheram os bolsos dos meliantes do Planalto Central. Estes, de colarinho em riste, branco como a pura neve, não se envergonham de suas obras monumentais, que ao lado das piscinas de ilusão, constituem monumentos esdrúxulos ao descaso pela ética, pela verdade e pelo bem comum.
Vem a polícia e prende, vem o “habeas corpus” - um duende verde criado pelos modernos legisladores, que com sua varinha mágica liberta os gênios das caixas de Pandora. Ficam eles então, ao lado do presidente do Congresso, que nada recebeu, nada viu, nada pagou a não ser o que pode ser provado pelos documentos X,Y, delta e Z, que sem ser mostrados, comprovados e atestados já o isentam de culpa. Digo e repito que devemos retirar os carpetes de Brasília. Aquela eletricidade estática que deles emana ao caminhar-se com sapatos de couro italiano, congela as fibras da ética.
Corações brasileiros: miremos a imagem do Cruzeiro, que nosso país de obras supostas e sobrepostas continuem superfaturadas: o universo nos admira. Libertem o homem das piscinas, ele nada mais fez do que copiar uma escola que há muito avilta os bolsos pátrios. Torna-se assim como um pobre ladrão de migalhas. Quero saber qual a grade que deterá aquele que construiu as pontes, as estradas, as escolas, as represas que não existem, ou que existem, mas que ninguém sabe onde estão?