ESTRADAS


As estradas me fascinam.

Sejam as grandes rodovias, que cortam as regiões, os estados ou o pais; sejam as ruas urbanas que picotam os grandes centros, que mostram o frenesi dos formigueiros urbanos e mesmo as ruelas que mostram as entranhas das sarjetas e desgraças das periferias nervosas e desassistidas.

Tudo, tudo que é caminho me leva a pensar, refletir sobre a vida, sobre os tempos, sobre a lida humana e no que me entrelaço, envolvo-me e por vezes sou engolido ou engulo tudo isso. Esse tudo é o meu refletir.

Todos os sonhos, todas as lembranças, passam por caminhos tantos. Desde o caminhão que vence distância, tendo na boleia um motorista solitário e solidário aos seus pensamentos, até o matuto que segura as rédeas de um carro de boi, que segue o caminho barrento, enquanto as rodas cantam a vagarosidade com que o tempo passa.

Todas as histórias transpassam os caminhos por onde se fizeram, dos tortos e inconsequentes traçados ao acaso, movido pelos destemperos ou improvisos dos incautos, até os metódicos planos arquitetados pelos que fazem do viver o seguir de estradas desenhados com os pinceis dos sonhos e esperanças. Ou mesmo o descaso dos tantos que vivem somente o momento, cuja façanha não acredito, mas, se existem, também deixam as marcas do lido e da lida.

Os caminhos, as estradas, as ruas, as trilhas, as picadas, os guetos servem para ir e vir. Sim. Pode-se passar, voltar e passar de novo. Existem caminhos em que passamos todos os dias, as vezes mais de uma vez, contudo, a cada vez que se passa é um história, tem um enredo, que não se repete jamais.

Passamos pela vida sempre por caminhos que normalmente permitem a volta, o retrocesso ou o retorno, mas o viver não permite. O viver tem mão única, onde o tempo não nos permite nem mesmo uma paradinha para tomar fôlego. Se o fazemos, se insistimos, o tempo nos atropela e não raro deixa cicatrizes que as memórias normalmente não deixam esquecer e as lembranças normalmente se fazem em gemidos de lamentos.

Em todas as minhas mudanças, em todas transformações por que passaram minha vida, sempre lembro a estrada por onde me encaminhei, por onde passei. Nalgumas vezes, quando a convicção não era companheira, lembro das olhadas sobre os ombros. Algumas vezes essas viradas às costas me tiraram lágrimas das lembranças recentes, porém, o caminho à frente normalmente me induzia a seguir e cada vez mais rápido, certo de que novas estradas seriam ainda mais venturosas.

Todos esses caminhos, contudo, virtuosos ou não, sempre estão muito límpidos em minhas memórias. Todos. Cada pedacinho de terra ou de asfalto por onde caminhei, guardo com cheiros e cores, alegrias e algumas dores. Certamente mais alegrias.

As estradas realmente me fascinam. Nelas, por elas, as vidas e as histórias se fazem. Todas as chegadas precedem de uma estrada transcorrida. Todas as despedidas se seguirão de uma estrada a ser percorrida.

Todas as estações tem uma estrada que se chega e se vai.

Definitivamente as estradas me encantam e encantado revejo tantas delas - agora...
Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 12/12/2014
Código do texto: T5067359
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