Wellington Aguiar
 
          Paraibano, tão de casa, e com nome estrangeiro! Mesmo assim, este nome começou a ficar caseiro e conhecido na cidade, apontado na rua como os “josés” e os “severinos” das nossas conversas; lá vai o cronista, o historiador das ruas da sua terra, ruas com seus nomes de nascença mudados para apelidos do crescimento; ao andar por elas, balbuciava Rua Direita , Rua Nova... Seus sapatos deixaram marcas nas calçadas do Centro, quando não, sinais como a chuva caminhando, lavando a cidade, deslizando pelos meios-fios até o Varadouro ou a Lagoa. É como se fosse água tomando a forma do seu repiciente, cada vez mais se parecendo com ele, comparável à cidade com seus habitantes ou aos habitantes, com sua cidade... Indo ou vindo, Wellington, pessoense da gema, não era capaz de dissimular essas semelhanças, traía-se ao abrir a boca ou ao fazer peculiares gestos, ao demonstrar paixão pela sua amada João Pessoa, onde, em praça pública, todos os anos, discursava o porquê desse nome.
          Homem de uma memória invejável, não se livrava nem das coisas que deveria esquecer, revivendo amarguras, não cicatrizadas como a incômoda gramínea que nasce e perdura no meio do trigo... Tudo verbalizava com extrema sinceridade, contando com detalhes ocorrências, personagens, não poupando até os que lhe eram caros. Certa vez, Luiz Crispim me confidenciou: “Fala até de nós dois, mas quem não gosta de escutá-lo?”... Bem-aventurado quem angariasse sua simpatia; desventurado quem lhe motivasse antipatia. Poderia defini-lo como uma caixa incontrolável de teses e antíteses que pouco se apressavam à síntese, preservando em si esse espírito polêmico. Há quem explique Wellington pelo que memorizou da infância, contudo muitas lembranças eram do recente, da nossa convivência, da nossa ambiência, que se somaram às velhas reminiscências; algumas ditas e repetidas no colóquio cochichador, mas sem evitar o tom que divulgava sua “discrição”...
           Ainda nas últimas horas em que a natureza lhe concedeu a palavra, pediu à amada neta Francine: “Quero ir para casa, ver Rita e Rosa”; com carinho, ela explicou que não poderia atender tal pedido, então insistiu: “Pois, leve-me à Academia Paraibana de Letras”. Revendo o Centro, Wellington, acadêmico e ex-presidente da APL, nunca deixou de visitar esta Casa, de comparecer aos seus eventos, às eleições e às posses dos novos confrades, quando se vestia elegantemente, não dispensando as insígnias acadêmicas. Sobre Wellington muito falarão ou escreverão, também isso é imortalidade...