TODA VEZ QUE DOU UM PASSO, O MUNDO SAI DO LUGAR
Em decorrência de obra de engenharia malfeita um viaduto erigido na Avenida Pedro I – região norte de Belo Horizonte – MG, após ter desabado parcialmente, recebeu escoras de reforço e o trânsito no local foi proibido e como consequência, desviado.
Apesar de todo o prejuízo financeiro, de mais de ano em obras e do custo social, reflexo da negligência da empreiteira contratada, a solução mais viável encontrada foi a de implodir o que restou da volumosa estrutura de concreto e ferragens.
Data e horário agendados para o segundo domingo, dia 14, do mês de setembro de 2014. Conforme amplamente divulgado, pontualmente às 9 horas.
Naquele 14 de setembro, após tomar o café da manhã, preparei a bicicleta, o capacete e os óculos de ciclista e fui até as proximidades do viaduto sentenciado a virar pó e ferros retorcidos.
Aproximadamente umas três centenas de pessoas também foram ver ao vivo, aquele acontecimento histórico para nossa cidade de Belo Horizonte – MG. Cada qual do seu jeito, com as suas expectativas e emoções.
Alguns estavam ansiosos, outros, como é o caso dos poucos moradores dos prédios vizinhos à obra, além de ansiosos estavam muito emocionados e angustiados.
Eu estava ali como mero expectador observando as pessoas, o cenário, refletindo sobre os tantos recursos, desconfortos e desgastes em vão, esperando pelo momento da inédita implosão.
Em uma vertente dessas observações deparei-me com a seguinte frase escrita no alto de um paredão de uma edificação parcialmente demolida, após passar pelo desgastante processo de desapropriação por parte Poder Público Municipal:
“TODA VEZ Q EU DOU 1 PASSO O MUNDO SAI DO LUGAR”
Chama-me especialmente a atenção a filosofia contida em muitas dessas frases pichadas em muros, tapumes, paredões etc. E essa frase despertou em mim o seguinte:
Como é que o mundo pode sair do lugar pelo simples fato de eu, uma insignificante porção ambulante de matéria neste imenso Universo, ter dado um passo?
A resposta a essa indagação pareceu-me muito simples: eu sou a minha própria referência em relação ao mundo e, para mim, cada vez que dou um passo, de fato o mundo sai do lugar. Pois o que estava no momento anterior ao passo dado, agora já não está mais. A posição em que eu me encontrava antes daquele movimento já não é a mesma. No mínimo está alguns centímetros ou até mesmo metro, distante de onde eu deixei.
É de fato muito interessante essa observação, porque me remete a várias outras no mesmo contexto. Por exemplo: sempre que me reposiciono, quer seja sobre uma cadeira, em relação a uma mesa, a uma janela, ou uma simples movimentação de cabeça ou do corpo, naquele instante o mundo sai do lugar para mim. E, caso eu retorne à posição original, também o mundo assim o faz em relação a mim.
Por outro lado, se considerarmos apenas em termos de localização geográfica, tudo volta mesmo ao que era antes.
O mundo não é o mesmo a cada fração de segundo que se passa, mas, uma vez que eu retomo a posição original ele me é devolvido no mesmo lugar de antes. Não exatamente nas mesmas condições de outrora, mas ele ainda se encontra onde eu o deixara.