Ao amigo
Ainda agora, a vida como tema, veio me visitar.
A tarde, tingida de cinza e vento sul me leva a meditar: Metade do tempo, creio, já passou, percebido ou não.
Algumas vezes fui príncipe, outras, uma pessoa comum. Não aceitei a condição de mendigo, confesso com humildade.
Ainda agora, tenho a imagem do amigo se consumindo pela enfermidade. A criatura que me ensinou a arte da boa conversa, a paciência e o valor da lealdade como primazia.
Me ajudou a enxergar horizontes e dar sentido à existência terrena, a precariedade do homem, suas limitações frente ao universo, e a visão cosmopolita do sonho.
" Os pescadores e as passadas de rede, a água azul enfeitando os corais "
Andei comemorando a virtude de viver como um marinheiro que chegou ao cais, onde ela se apresentava, calma ou em frenesi, ateia ou religiosa, como em um grande carnaval.
Estão em mim, as noites claras, as ruas cheias de pessoas, sorrisos de namorados, e as camisas de seda - As manhãs, o trabalho, a amizade dos amigos, a vontade de ganhar dinheiro, o aperto de mão dos comunistas, fascistas, poetas, anarquistas, e os meus ternos bem comportados.
Agora estamos andando pela cidade, provocando uma discursão musical, alguma ironia politica, o sorriso das moças coloridas de verão. Tudo era feito de poesia, até as boates da rua Duque de Caxias, tinham alguma elegância Parisiense, no tempo que Vitoria era digna deste nome.
"Mozart, Puccini, Dostoievsky, e as orquídeas penduradas nos laranjais"
Agora é noite densa. Começa a chuva e o vento sul.
A vida traria mais felicidade, se ele levantasse do leito e trouxesse os braços para um grande abraço.
Os tempos futuros serão de impossibilidades e memórias!
Ainda agora, a noite avança. Preciso de um vinho forte para embaralhar a alma e provocar o sono; a trégua entre o hoje e o amanhã.
Minhas pérolas retornam ao mar!
" Ao poeta, que nunca precisou escrever um verso!"
( JVA )