UMA TARDE GELADA
Eu ia pelas ruas e o vento balançava meus cabelos.
As pontas do cachecol subiam e desciam.
Toda enrolada eu seguia.
Estava super agasalhada e a mão estava gelada, pois esqueci as luvas em casa.
Cheguei ao abrigo de idosos e fui entrando.
Lá já sou tão conhecida e tão querida.
A todos eu beijo, abraço e chamo pelo nome. Dou atenção.
São todos meus queridos.
Um deles segurou a minha mão e falou:
-- Credo. Parece a mão de uma morta. Menina, por onde andou que está enregelada assim?
Falei: Vim caminhando ué.
Ele riu e falou:
-- Aqui estamos aquecidos.
Falei:
-- Sorte a de vocês que têm este lugar pra morar. Tantos estão pelas ruas... eu vi alguns hoje.
Sei que a realidade de viver lá é difícil porque os seres humanos querem estar com as suas famílias. Pelo menos acredito que a maioria tenha este desejo.
A conversa seguiu e minha mão continuou fria.
Eu evitava encostar a mão neles, mas alguns a procuravam, como a Cacá que não fala com a boca, mas com aqueles olhos que eu já compreendo. Como Bina que também não fala, mas grita com o olhar...
E Lurdinha que fala enrolado, mas se faz entender mesmo assim.
Eu os amo e uma tarde gelada não é desculpa para não ir visitá-los.
Fui adentrando no asilo e visitando cada um deles.
(já faz algum tempo que escrevi esta crônica e a Lurdinha já partiu)