UMA TARDE GELADA

Eu ia pelas ruas e o vento balançava meus cabelos.

As pontas do cachecol subiam e desciam.

Toda enrolada eu seguia.

Estava super agasalhada e a mão estava gelada, pois esqueci as luvas em casa.

Cheguei ao abrigo de idosos e fui entrando.

Lá já sou tão conhecida e tão querida.

A todos eu beijo, abraço e chamo pelo nome. Dou atenção.

São todos meus queridos.

Um deles segurou a minha mão e falou:

-- Credo. Parece a mão de uma morta. Menina, por onde andou que está enregelada assim?

Falei: Vim caminhando ué.

Ele riu e falou:

-- Aqui estamos aquecidos.

Falei:

-- Sorte a de vocês que têm este lugar pra morar. Tantos estão pelas ruas... eu vi alguns hoje.

Sei que a realidade de viver lá é difícil porque os seres humanos querem estar com as suas famílias. Pelo menos acredito que a maioria tenha este desejo.

A conversa seguiu e minha mão continuou fria.

Eu evitava encostar a mão neles, mas alguns a procuravam, como a Cacá que não fala com a boca, mas com aqueles olhos que eu já compreendo. Como Bina que também não fala, mas grita com o olhar...

E Lurdinha que fala enrolado, mas se faz entender mesmo assim.

Eu os amo e uma tarde gelada não é desculpa para não ir visitá-los.

Fui adentrando no asilo e visitando cada um deles.

(já faz algum tempo que escrevi esta crônica e a Lurdinha já partiu)

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 09/12/2014
Código do texto: T5063836
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