A PAZ DESTE LUGAR

Sabe por que gosto de vir aqui? Porque aqui encontro a paz que minha anseia.

Entre estes canteiros eu posso caminhar com a alma leve.

Eles existem há tantos anos. Tiveram grande importância em minha vida e vou voltar a tocar no assunto.

Um dia eu estava presa ao leito e não via muita perspectiva para meu futuro. Lá em cima eu sofria e, as borboletas, colibris e abelhas frequentavam este jardim. Eles se deliciavam indiferentes ao que se passava lá naquele quarto.

Presa entre quatro paredes estava desistindo da vida e era uma mocinha ainda.

Eu lia, lia e às vezes escrevia. Mas havia dias que simplesmente me trancava em meu mundo. Não conversava, cobria a cabeça quando alguém vinha me visitar.

E algumas pessoas insistiam em me ver. Elas sempre tinham uma palavra para me oferecer.

Um dia quis ver o jardim e minha mãe providenciou um espelho para que eu o ficasse olhando.

Pude ver a vida que existia nele e percebi que morria aos poucos trancada naquele ambiente, presa a uma cama, a uma doença que me consumia.

Desejei estar no meio das flores. Sentir a maciez de uma pétala de rosa, ouvir de pertinho o zum zum das abelhas, deixar que uma borboleta pousasse em minha mão. E deixar que os beija-flores se aproximassem.

Eles estavam tão perto e pareciam fazer parte de outro mundo. Um mundo que eu perdia a cada dia.

Desejei com tanta ansiedade voltar a frequentar o jardim que ficava embaixo da minha janela. Desejei tanto sorrir de novo para a vida.

Não pensem que foi fácil. Não foi um passe de mágica, mas consegui. Levou um tempo. Um bom tempo.

Os anos passaram e me trouxeram tantos outros dissabores, e tantas alegrias também.

O jardim não mudou muito com os anos. Algumas plantas morreram, outras nasceram, mas o conjunto todo continua sendo belo e são frequentados com a mesma assiduidade pelos pequenos colibris, pelas borboletas, pelas abelhas.

E principalmente pela pessoa mais importante. A responsável por este belo jardim: Minha mãe.

Que linda criatura Deus colocou no meu caminho! Nos seus olhos azuis existe tanta doçura, tanta ternura. Ela cuida das flores com tanto afeto. E cuidou de mim como a flor mais importante no seu jardim da vida. Hoje sei disso.

Palavras jamais expressariam o sentimento que nos une.

Eu sei que a escolhi para minha mãe, que não foi a toa que nasci sua filha. Não foi...

Mãe, o seu jardim mora no meu coração. Mesmo quando estou distante basta pensar nele e posso sentir seu perfume. A suavidade de estar entre as flores que se balançam a uma brisa leve da minha terra natal é parte da minha alma.

Hoje sei mais quanto significa este jardim. Quanto ele foi importante no meu desenvolvimento espiritual.

Sei que parece tolice dizer que um jardim é importante para um desenvolvimento, mas não é... ele é uma referência. Teve sua importância e tem e, mesmo que um dia deixe de existir, vai continuar morando no meu peito.

Ele foi o caminho que encontrei para voltar à vida. Até hoje eu o busco quando alguma coisa está me machucando e sinto paz ao recordá-lo.

Quando recordo a distância tão pequena e tão grande que existia entre o meu quarto lá em cima e o jardim lá embaixo... O quanto foi difícil encontrar forças para voltar a frequentá-lo...

Sim, esta doença crucial que tive na juventude e o jardim de minha mãe são as referências de minha vida. Ele se tornou o meu canto de paz e o carrego para aonde vou.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 08/12/2014
Código do texto: T5062861
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