Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada.
Uma vez decorei o poema do Manuel Bandeira. Não recitava para ninguém porque lá, neste lugar paradisíaco, tinha alcalóide à vontade e prostitutas bonitas.
Não ficava bem para uma menina repetir esses versos, mesmo tendo sido escritos pelo Bandeira. Mas também tem os versos:
...”E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar”...
Quem me dera hoje, poder ouvir as histórias como criança, deitada na sombra, livre de problemas, preocupações, acreditando só na vida. Do tempo de eu menina.
Pasárgada pode ser uma noite bem dormida, dinheiro na conta, saúde para todos – já é demais. Pode ser uma viagem de ônibus de volta para casa, ou o celular que não toca para dar notícias ruins.
Depois de grandes na idade, os lugares imaginários ficam mais distantes e quase inatingíveis, mas a sensação de paz, de calor e fantasia – não esquecemos jamais.
Basta ficar assim quietinho, respirar fundo e soltar a imaginação.
...”E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito”...
Vou-me embora pra Pasárgada.