SEM ARMAS OS NATAIS SÃO MELHORES
Moramos quatro anos em Belém Novo, bairro que tinha tudo para ser uma pequena cidade limítrofe com a Capital, uma cidadezinha turística estaria de bom tamanho, hoje não há mais clima.
Era o final de 1961 e eu recém havia completado seis ano. Neste mesmo ano passamos a frequentar um Centro Espirita da linha Allan Kardec localizado na rua onde estava a Sétima Delegacia porém do outro lado da estrada Juca Batista.
Num final de tarde depois de uma sessão de passes houve uma confraternização e distribuição de brinquedos, pois o natal estava próximo. As crianças tiravam de um saco um pepel numerado, sobre a mesa os brinquedos tinham uma etiqueta com o número correspondente.
Isto faz 53 anos, nem lembro mais o número que tirei, mas lembro perfeitamente que era uma pistola que lançava jatos d'água, de imediato mamãe pegou-a e pediu para ser substituída, pois armas eram brinquedos do demônio, em troca deram-me um quebra-cabeças de papelão.
Na volta para casa mamãe tentava me convencer-me que fora uma ótima troca.
O tempo passou e eu nem sei qual era o motivo do quebra-cabeças.
Onze anos depois eu sentava praça na Brigada Militar e deram-me um fuzil 1924 que de tão velho as balas entravam de lado no alvo, mas mesmo assim o coice no ombro era vigoroso, dois anos depois ganhei um Mauser 1908, mais pesado e cano novinho.
Mamãe partiu seis meses antes do natal de 1987 e sempre dizia que rezava para que eu nunca tivesse que atirar contra ninguém.
Sei lá, mas estimo que eu tenha dado mais de 25.000 tiros em toda a minha vida, com a graça de Deus quase todos na direção do alvo, alguns para cima e nenhum contra seres humanos e não foram raras as vezes que entre eu e um meliante havia a minha arma: eram outros tempos, pois gritávamos mãos na cabeça e elas iam.