Passeata gay em Boiolópolis!

Já havia muito tempo que aquela pacata cidade interiorana tinha uma fama indesejada, muitos teimavam em não acreditar a razão de alguns jocosamente a chamarem “Boiolópolis”, e os mais simples chegavam a pensar que o apelido justificava-se pelo rebanho bovino em seus pastos, terra de tradição de vaquejadas que atraiam de longe vaqueiros, peões, tratadores de animais e mariposas. Afinal onde há concentração de homens rudes e beberrões elas aparecem atraídas pelo brilho das notas de vinte e pelo tilintar das moedas da aposta de cara ou coroa. A que for mais cara e menos coroa é a escolhida!

Mas faltava muito para a vaquejada, e “Boiolópolis” tinha suas noites tranqüilas e poucos gemidos, uivados e a outros interessantes barulhos noturnos, o que preocupava ao prefeito, pois a cidade estava regredindo populacionalmente. Registravam-se poucos nascimentos. Por via das dúvidas a Câmara Municipal já havia votado um projeto lei que obrigava ao município impostar água mineral para consumo humano, visto que alguns entendidos na coisa diziam que era a água que estava causando a esterilidade masculina. Quanto exagero! Chegavam até a dizer que se colocasse água da torneira no radiador de um carro este só engataria marcha ré!

Eram muito graves as insinuações àqueles homens de herança masculina, de um povo que até onça enfrentava, para manter o território habitado por famílias tradicionais, que com custo do suor e arranhão dos espinhos nas aberturas de trilhas, feitas no facão há mais de dos séculos, eram cantados nas escolas como terra de homens imbatíveis. Quem bem observasse algumas coisas faziam sentido: Boi não reproduz então se “Boiolópolis” fosse ao sentido do animal, estava plenamente justificado.

Por outro lado se fosse dito relação ao que... que... que! Isso mesmo o que o leitor está pensando! Também a afirmação de “homens imbatíveis” cantada no hino estaria correta, pois não há espécie que tão raramente se abata, mesmo sob intenso peso, que os homens gays. Estão sempre alegres e nos fazendo sorrir, e não se podia, portanto, dizer que aquela pequena cidade era uma cidade triste. Jamais!

No passado tudo ficava oculto, o encontro noturno nos galpões e estrebarias entre os filhos dos senhores e filhos do destino que nas fazendas chegavam como peões. O tempo foi se modernizando, nas praças os mais corajosos mostravam suas caras pintadas, não em um movimento de greve ou reivindicação. As caras eram pintadas de rouge e a boca de batom, e apareciam em diversos cantos da pequenina praça onde o coreto servia mais cedo para a banda tocar e mais tarde para que eles, os revelados, tocassem a vida a sua maneira!

Porém um dia, como as cidades pequenas tendem a imitar as maiores, chegou à notícia que em São Paulo acontecia à passeata gay: “Maravilha já não nos chamam de veados e nem de bonecas, e sim pela elegante denominação de gays!”, disse um dos que há poucos meses se separara da mulher com que se casara enganadamente. Outro menos estudado complementou: “É merco né? Nós não é veado, pois nós não tem chifre, nós é que bota chifre. Nós não é boneca porque nós é que segura na boneca. Ai nós semos gay!” Coitado do professor de português, que ouvindo a fala, retrucou: “Não é nós semos, é nos somos”, explicou e teve que ouvir: “Desculpa eu que eu não sabia que o senhor também é”. E começou a pipocar em todo o país passeatas gays!

Enfim a tendência de liberdade do corpo chegou à pequena cidade, cujas autoridades perderam o controle, e em nome da igualdade tiveram que permitir uma passeata gay, mesmo com a ameaça de excomunhão do vigário, que insistia em dizer eu estes assuntos devem ser tratados entre quatro paredes, preferencialmente e silenciosamente entre as paredes da casa paroquial. E surgem as faixas, e a primeira delas imitando um ditado popular: “Mais vale um pinto na mão, que dois no galinheiro!”

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(*) Seu Pedro é jornalista do jornal Vanguarda, de Guanambi – Bahia, e recentemente foi convidado a receber o título de cidadão da tal pequena cidade, por precaução até hoje não foi buscar a importante homenagem.