Sinecuras partidárias
 
          Nas proximidades natalinas, jornais nos presenteiam um doce azedado que, enfarados, já comemos em excessiva quantidade; trata-se da multiplicação dos partidos políticos, dobrando-se essa sinecura  de negociação ou partidos sem estatura, chamados por eles próprios de “partidos nanicos”.  Se “partido” vem de “pars” (parte), esses não passariam de insignificantes partículas, substancialmente sem alguma representação; sem qualquer ideologia; apenas rótulos repetidos sobre nossos problemas, uma treose xaroposa que repugna à razão.
          Há de se crer que todos nós desejamos uma sociedade organizada e feliz, no entanto, para se atingir esse objetivo, surgem inúmeras opiniões, caminhos diferentes, uns até antagônicos que, entre si, opõem-se formalmente, formando partidos políticos com adeptos dessas ideologias, de um conjunto de interesses. Monopartidarismo? Um só partido não seria o ideal, mas muitos países sérios se contentam com o bipartidarismo ou até com quatro partidos. Pluripartidarismo?  A diversidade política propicia o pluripartidarismo, mas que não se abuse da quantidade. Aqui, quando já se tem uma trintena dessas agremiações, noticia-se a tramitação de mais de trinta pedidos para criação de novos partidos, mesmo com o pronunciamento do TSE de “reduzir o número de partidos” na ocasião da “Reforma Política”. Já há 32 siglas que contemplam e acomodam todas as ações no mundo político; enquanto  inúmeros pequenos partidos não se empenham em crescer; tais agremiações “anãs” se caracterizam na negociação de favores, venda de apoio, divisão do “horário gratuito” e cobranças, após as eleições, no jogo parlamentar.
          A notícia de se criar mais siglas irrita qualquer bom senso. Se precisássemos de mais partidos, um só seria necessário: o que viesse combater as mazelas e as negociatas consequentes da quantidade já existente. No país recordista de partidos, acontece o descaramento de se requererem mais trinta novas agremiações; descrédito à reforma política, se seus protagonistas são esses mesmos políticos que causam a necessidade da reforma... O povo fica a esperar que seus “representantes” se conscientizem da sua obrigação de bem proceder sobre esse assunto. Contudo, vale a assertiva martiniquense: “Ninguém, no alto da árvore, corta o galho no qual está sentado”. E nessa selvageria de interesses, parece que cada dúzia de políticos queira um “partidozinho” para si, o que seria “cada macaco no seu galho”... Eles sabem de tudo isso? Sabem, simulam que não sabem, também dando vez a um antigo e perspicaz aforismo: “O ignorante não sabe de nada, o mau político não quer saber”...