Os marimbondos
(crônica da casa nova)
Nem tão nova assim, pois já completou seis meses que estou morando sozinha. Durante esse tempo, a convivência com os marimbondos instalados na lâmpada da sala, e alvoroços das pessoas que se sentiam incomodadas e temerosas de levar um ferrão, porém sempre adverti que eles não fazem mal, a não ser que se sintam ameaçados.
Sempre me recusei a expulsar os bichos, porque eles já estavam lá quando cheguei. Também nunca me fizeram mal, ao contrário, uma companhia. Porém, algumas pessoas ficam intranquilas, intimidadas com os marimbondos, insistindo que devo exterminá-los de minha casa, com argumento de que corro um grave risco de ser ferroada e ficar dias com dor e febre.
Dizem “se tirar a casinha, eles não voltam”. Dessa forma não mataria nenhum, por todo esse tempo me recusei a interferir no espaço deles, o teto. Convivemos em harmonia, mas o desconforto dos outros me fez pensar no caso. Meio a contragosto decidi que havia chegado a hora. Pedi a um amigo que tirasse a casinha sem fazê-los mal. A pequena construção tão bem arquitetada é também muito resistente. Demorou um pouco até ele conseguir derrubar com um cabo de vassoura.
À noite quando fui dormir, sentia a ausência deles numa doce solidão. Por pouco tempo, pois quando acordei de manhã, havia quatro marimbondos sobrevoando a lâmpada. Voltaram! Estão construindo uma nova casinha, no mesmo lugar e com perseverante esforço. Fico observando a perfeição das ‘ocas’ para tentar entender como conseguem ser tão minuciosos! Onde conseguem o material? A natureza provém de si mesma.
Agora não há o que fazer. Somos todos livres e não possuímos teto ou objetos. Tudo está sujeito a constante transformação. Perigoso mesmo é pensar no perigo. Apenas uma projeção. Tentei, mas não controlo nada. De qualquer forma viver é arriscado, conviver bem com todos os seres é um desafio lindo. Viva a Natureza e viva a liberdade!