O Botão Amarelo do Banco
Por Carlos Sena


 
Presenciei uma cena linda na frente do Banco do Brasil. Pequena fila se fazia na frente de uma agencia, mas a mesma só abre a partir das sete da manhã. Um senhor, todo dono da verdade, apertava no botão amarelo da porta, mas ela não se abria. Cada um que chegasse fazia um gesto tipo: “já são mais de sete horas e o banco não abre”? Chegavam mais pessoas que olhavam o relógio e logo faziam ar de desaprovação com o horário. E o senhor – o primeiro da fila, não se cansava de apertar o botãozinho amarelo da porta, mas a porta nada, não dava nem sinal de vida. Ele olhava pro seu próprio relógio, verificava pelas vidraças se havia lá dentro algum segurança, mas nada. Falava do banco, metia o pau no governo, mas não se esquecia de apertar o botãozinho amarelo. Quando chegamos ao mesmo banco entramos na fila e ficamos ouvindo o desconforto de todos com o horário. De repente surge uma senhora idosa, meio já curvada, cabelos desalinhados. Todos olharam pra ela com desdém, algo como “essa velha gagá não tá vendo que o banco está fechado”? Mas ela, tranquila, olhou a fila, subiu os degraus e sem se incomodar com os olhares preconceituosos  tomou a decisão óbvia: apertou o botãozinho amarelo e empurrou a porta que abriu imediatamente! O primeiro da fila – o metido a inteligente e politizado ficou com a cara lambida todo cheio de dedos. Certamente os demais que estavam no final da fila feito eu ficamos putos, pois o cara era tão metido, mas não teve inteligência para saber que “porta não se abre sozinha” (não aquela do banco) e precisa não só do aperto no botão, mas que se empurre a porta para completar o processo. A idosa entrou, ignorou os olhares outrora preconceituosos e fez suas atividades no caixa eletrônico. Eu, junto dela, fiquei feliz. Principalmente porque ela, que todos imaginavam não soubesse, sequer, o que seria um computador, deu show de pro atividade em todos; deu uma aula contra o estereótipo de que só os mais jovens ou os menos velhos dominam o mundo da virtualidade e da modernidade que nos assola.
Quando saí do banco não me saiu da cabeça a imagem daquela idosa e daquele “mala” que se apoderou da porta do banco e nos impediu de entrar na hora certa. Acho que a maioria dos que estávamos na fila alcançamos a lição de que idade não pode ser um diferencial de incompetência, nem de inabilidade.