O nome não dado - O vestido não vestido.

A fonte era a constantia, número quatorze. Adorava assim, era, segundo ela, a melhor fonte para se escrever “aquele conto” “aquele poema maçante”. Digitara a primeira frase. Apagara... Tornou a digitar e desistiu no na segunda palavra. “Péssimo dia, deixo para depois”. Levantou e atirou o Puff longe. Espreguiçou-se deu um volta pelo cômodo abriu seu velho guarda-roupas e com surpresa constatou que seu velho, nostálgico e infame vestido azul ainda estava ali. Jurara ter abandonado “Aquele vestido” o encarou como algo muito nojento e teve sua pior ideia. Bem, a ideia já fora concebida então porque negar?

Sua próxima personagem usaria aquele vestido, teria uma predisposição à coisas explosivas e seria uma piromaníaca. Teria a tendenciosa obsessão por deixar caminhos de garras na pele doutrem. Seria viciosa e viciada, pela vida e pelo prazer de poder respirar livremente com suas contas a sufocar, com seus problemas e suas formas tristonhas de resolve-los. Sim, seria assim. Seria aquilo que ela própria não poderia ser e seria ela mesma, ao menos era o que pensava.

Que nome daria? Teria que ser um nome que saltasse da boca de quem pronunciava... Teria que ser um nome pegajoso, um nome que sairia de forma macia. Mas claro, dar nomes às coisas/pessoas/animais não era o seu ponto forte, ficava dividida entre o simplista e medíocre e o fantasioso demais. Então, sendo assim, resolveu dar-lhe seu próprio nome, assim, essa nova estranha poderia carrega-lo por aí, afama-lo ou difama-lo, poderia trazer paz ou a desvirtuada tonalidade de crime oculto. Poderia ser “sem sal” ou alguém que mataria hipertensos de meia idade com os seus beijos.

Sim, seria feito assim, seria alguém sem rosto, então resolvera dar-lhe o seu rosto, assim, toda vez que um personagem a beijasse, seria a autora a ser beijada, e toda vez que fosse esbofeteada, poderia dizer que era apenas um pouco parecida com sua cria.

No fim das contas, acabara dando seu nome, seu rosto, seu corpo e sua alma. A trataria como parte dela (ou talvez, até trocaria sua vida para ser sua descrita imagem) lhe daria abrigo e uma mente equilibrada, lhe daria uma filha de quatorze anos que nascera do nada e lhe daria um marido, esse sim era completamente sem rosto. Sem nome e sem rosto. Mas pensava consigo mesma, que mal faria, afinal o que eram os homens para ela? Ela teria sua filha pré-adolescente e problemática e teria “Aquele vestido azul”.