ZÉ DAS MEDALHAS
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Um dos personagens mais emblemáticos da não menos emblemática telenovela Roque Santeiro, exibida em 1986, é o avarento Zé das Medalhas, interpretado por Armando Bógus, morto em 1993. Na novela, Zé das Medalhas é um esperto comerciante de medalhinhas, lembranças, santos de barro e patuás, ou bentinhos, objeto de devoção formado por dois pequenos quadrados de pano bento, com orações escritas ou uma relíquia, que os devotos trazem ao pescoço. Zé das Medalhas acaba por sucumbir ao peso das próprias medalhas, ou melhor, ao peso das próprias moedas.
Isso me faz lembrar e me perguntar por que e para que tanta ganância? Hoje em dia, constitui ingrediente recorrente nos nossos noticiários o rombo de desvios milionários, bilionários. O que que essa gente faz com tanta dinheiro sujo? Só deve ser sujeira também. Ou são todos adeptos da máxima, em latim, “pecunia non olet”, dinheiro não tem cheiro? Depois, ah! faz-se a lavagem do dinheiro. Também com a impunidade solta que deixa soltos grandes sonegadores e sanguessugas do erário! E não adianta denunciar. Essa é a sensação já assumida por tantos brasileiros honestos, trabalhadores, e que se sentem impotentes diante da corrupção institucionalizada, verdadeira avalanche sem fim, consagrando de vez a propina como marca brasileira registrada. Ou será sensacionalismo de uma mídia irresponsável, que vive denunciando sem provas? Sei lá se eu sei... Mas parece que nunca se vira tanta espoliação da “res” pública, escândalos pipocando na mídia todo dia. Enquanto isso, usando como fecho um comentário, ainda atual, de Saramago: “... enorme mar convulso que é o Brasil: as trapalhadas da sua vida política, a corrupção como sistema organizado de vida, a delinquência urbana, os desmandos e violências da polícia militar, e, assim, passando do mau ao pior, às vezes a um talvez-mude, a um quem-sabe, a uma esperança fugaz”.
E o que que isso tem a ver com o Zé das Medalhas, hein?...