NHÔ TICO
Em Brejo das Antas, distrito de São Roque de Minas, havia uma escolinha rural cujo diretor e professor responsável pela educação dos meninos, filhos dos sitiantes e roceiros da localidade e adjacências, era o Professor Raimundo, zeloso mestre sempre preocupado com o futuro dos seus alunos.
Numa de suas classes, de garotos na faixa dos oito, nove anos, havia um moleque espevitado que atendia pela alcunha de “Nhô Tico”, o qual sentava sempre no fundo, nas últimas carteiras. O professor, atento à participação de todos, costumava fazer perguntas aos alunos, esforçando-se para a interação dos petizes às suas aulas.
Em determinada manhã o Professor Raimundo dirigiu-se ao “Nhô Tico”, assim de supetão:-
“- Nhô Tico”, quem foi que descobriu o Brasil?...”
O pivete, pego de surpresa, encolheu os ombros, coçou a cabeça e respondeu ao mestre:-
“- Ah, não fui eu não, professor Raimundo!...”
O mestre explicou à classe sobre a expedição portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral e deu uma chacoalhada geral na turma, exigindo maior atenção aos seus ensinamentos.
Preocupado com o desempenho do aluno “Nhô Tico”, numa tardezinha ele pegou sua charrete e dirigiu-se à fazendola onde morava esse aluno. Sua chegada despertou dois cachorros sempre vigilantes, o “Capeta” e a “Ximbica”, que latiram bastante, chamando a atenção do fazendeiro, “Seu” Nicolino.
O pai do “Nhô Tico" largou dos seus afazeres e convidou-o a entrar na casa, preocupado com o filho e já pensando numa trapalhada do moleque:-
“- Vai ver que “Nhô Tico” fez alguma burrada lá na escola!...”
Mestre Raimundo tomou a caneca d’água que o velho lhe ofereceu e foi direto ao assunto que o levara até a propriedade do “Seu” Nicolino:-
“- Seu” Nicolino, o “Nhô Tico” anda meio desatento às aulas, sabe? Não que ele seja burro, mas é meio desinteressado. O senhor acredita que, dia desses, eu lhe perguntei quem foi que descobriu o Brasil e sabe o que ele me respondeu?”
“- Pois me diga, Professor Raimundo” – indagou o sitiante.
“- Ele respondeu dizendo que não havia sido ele não, ora pois! Imagine o senhor, “Seu” Nicolino. Pode ser uma coisa dessas?...”
O velho fazendeiro tirou o chapelão de palha, encardido de poeira e suor, coçou a cabeça e sapecou de volta:-
“- Professor Raimundo, esse moleque é ladino que só. Vai ver que foi ele mesmo e tá escondendo do senhor. Aperta que ele fala!...”
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 30/11/14