O TEMPO
Encontrando o filho do violonista Antonio Carlos, surpreendeu-me a semelhança dele com o falecido pai. Apenas parecia mais velho. O tempo faz com que muitos que se foram permaneçam jovens. Um filho fica, então, mais velho que o pai, e muitas vezes mais velho que o próprio avô.
Fico aqui pensando que um dia terei a idade de meu pai quando se foi, e ficarei mais velha que ele, pois a imagem que deixou foi de jovialidade, alegria... Que sensação estranha!
Conforme o tempo vai passando, mais essas impressões se acentuam dentro de mim. Passo a olhar cada pessoa e a imaginar que estão mais velhas que os pais, avós, enfim, parece um filme, cheio de flashbacks.
Não sei se isso é uma ocorrência normal, se estou sofrendo de alguma síndrome, mas, ontem, olhando para meu irmão achei-o praticamente igual ao meu pai, o que significa que daqui a um ou dois anos será mais velho que ele. A lembrança de meu pai sorrindo, de seus olhos azuis brilhando será ainda mais forte que agora. Um oásis, enquanto aqui vamos vincando, murchando...
Que possamos conservar a jovialidade de nosso espírito. Manter acesa a chama da vida... Caso contrário tudo pesa, as saudades passam a incomodar, a vontade de chorar chega sorrateiramente, e, se pararmos para analisar o quanto surpreendente é a vida, a gente pára de viver. É uma depressão aqui, outra ali...
Bem, vou sair, fazer um lanche na Confeitaria Colonial e ouvir Maria Rita, que daqui a algum tempo estará igual a sua mãe, Elis Regina, quando se foi.