Em compensação...
É possível que o número de pessoas que frequentemente atribui os seus pequenos infortúnios a outros, ao acaso, a um objeto, a um lugar etc. não seja tão grande. O fato é que mesmo quem não costuma agir assim, de vez em quando se sente tentado a tirar o seu da seringa e infantilmente jogar a culpa em qualquer entidade, certamente para, minimizar o sentimento de frustração e assim se livrar de eventual urucubaca desfechada por algum par de olhos gordos de plantão. Sozinho hoje, decidi ir almoçar no shopping, ainda com os rescaldos do black Friday de ontem e turbinado pela coincidência do binômio “fim do mês mais fim de semana”. Não deu outra: gente se esbarrando por tudo que é parte. Havia estacionado bem no final do último andar, o que faz a gente dar aquela caminhada no calor nordestino pela imensidão da garagem de pé direito baixo: que beleza! Ufa! Ar condicionado! Nesse período as caras e tipos são ainda mais diversos. Se fosse um prato seria uma... Paella! Uma feijoada vai! E por falar em comida, do outro lado do imenso pavilhão está a tão esperada praça de alimentação. Sozinho, como disse antes, não há quem guarde lugar enquanto se está na fila do caixa, por isso optei por restaurante com sua própria área de mesas. Montei o meu prato e ao chegar à paradoxalmente civilizada e famigerada fila... Cadê a carteira? Será que? Não é possível! Bem, nessas horas, melhor agir logo: moça guarde esse prato que vou ao estacionamento pegar minha carteira que esqueci no carro. Nova caminhada. Enquanto me aproximava do carro algo me dizia não tela visto/sentido em nenhum momento durante o trajeto. Meu Deus, esqueci em casa? Não poderia pagar o estacionamento, logo, tomaria um taxi para ir até minha casa. O taxista esticava tanto as marchas que não me contive: “transito terrível né? – É. - Dirige há muito tempo? -30 anos. – Era cada freio! Enfim, chegamos: - Companheiro, aguarde aqui que vou pegar minha carteira e já retorno. Estava sobre uma cadeira. Aliviado tomei a condução que me aguardava e empreendi minha maratona rotineira: transito, entrada, pavilhão, multidão, praça, restaurante. Meu prato estava lá friinho, friinho! Não aceitei esquentarem porque aí esquentaria salada, molho frio, etc. E comi como quem se vinga depois que todos esqueceram o crime...(...é um prato que se come frio!). Belo almoço de sábado! Lembrei daquela canção do Chico, numa paródia, é claro: “comprei, comprei, como é cruel comprar assim... e num instante de ilusão...) Bem, comprei nada caro não. Foi só uma compensação. O saldo é que, afinal, obtive um tema pra estar escrevendo agora.