PIRAHÃ: UM POVO À PARTE NO SEU MUNDO PARTICULAR

O povo Pirahã (cerca de 400 pessoas), vive em quatro aldeias às margens do Rio Maici, afluente do Rio Marmelos que por sua vez é afluente do Rio Madeira, tributário do Rio Amazonas. Sua localização está no município de Humaitá, Estado do Amazonas. Sua língua é classificada como pertencente à família Mura. Os Pirahã foram avistados pela primeira vez no final do século XIX por caçadores de ouro portugueses. Nimuendaju registra o encontro de uma aldeia Pirahã à margem do Rio Maici. Vivem exclusivamente da natureza: nada produzem, só extraem aquilo que a natureza lhes oferece.

Esse povo sempre foi notável pela sua independência, pela sua ligação com a vida, pela sua satisfação e pela sua felicidade em ser como sempre são. Um povo tão feliz em sua ótica com relação com o mundo em que vivem que se consideram como os mais conscientes de todos os povos, de tal modo que se mostram totalmente arredios à aproximação com outros povos indígenas e até com os não-índios. Para os Pirahã os outros são simplesmente os outros, que eles denominam “xapagaiso” ou seja, “cabeças deturpadas, cabeças tortas”. Eles demonstram total desinteresse pelo mundo externo. Em contrapartida, eles se autodenominam “Hi’aiti’ihi” que significa algo como “povo correto”.

No ano de 1977, um grupo de missionários estrangeiros apareceram em terras Pirahã com o intuito de evangelizá-los, uma forma perversa de destruição de culturas propagada por missionários. Junto com esses missionários veio Daniel Leonard Everett totalmente convicto em destruir a cultura desse povo. Lá verificou que o povo Pirahã não falava língua alguma que não a sua própria e sempre se mostraram arredios àqueles que queriam destruir a sua cultura própria querendo impor uma cultura diferente, com toda certeza, uma espécie de violência.

Os Pirahã não acreditam em nada que vem lá do alto, só aquilo que está no solo. Não acreditam em céu nem inferno nem na “terra sem males” dos outros povos indígenas. Para eles, o Deus que os missionários queriam impor é um forasteiro que eles não conhecem nem querem.

Em lugar de aceitar a violência cultural dos missionários, os Pirahã conseguiram mudar a consciência daqueles imbuídos em destruí-la. O pastor Daniel Everett acabou convertido pela força cultural desse povo. A intenção dele era evangelizar o povo e traduzir a Bíblia para a língua Pirahã.

Daniel Everett então começou a se interessar pela linguagem e cultura Pirahã e percebeu que em seu modo de comunicação, o Pirahã, uma língua tonal, uma linguagem que pode ser falada, sussurrada, cantada e assobiada. Diferente de todas as línguas do mundo. Não há palavras para as cores, não tem números e não há tempo passado nem futuro. Existe uma verdadeira fixação pelo presente. Com o tempo, Daniel Everett descobriu que há nessa língua uma anomalia gramatical que contraria a conhecida lógica da gramática humana, ditada por Noam Chomsky, considerado o maior linguista do mundo: a língua Pirahã não tem recursividade, ou seja, a habilidade de combinar diversas ideias em uma única sentença. Com tudo isso, Daniel Everett se transformou em professor de linguística e a sua tese foi justamente a quebra das regras ditadas por Chomsky, regras bem observadas na língua Pirahã. Com isso ele angariou inimizades em todo o meio linguístico.

Na língua Pirahá só há três vogais “a, i, o”, e seis consoantes “b, g, h, p, s,t”. As sentenças são limitadas e não existem orações subordinadas.A pronuncia dos vocábulos depende do sexo da pessoa que os fala e há uma sétima consoante “k” utilizada só pelos homens. A língua não possui termos que definam parentesco ou descendência e os Pirahã evitam utilizar a forma sussurrada da sua língua perante estranhos com receio de parecerem ridículos.