RECORDANDO
Frutas de todas as cores e sabores no sítio vizinho a nossa casa. Um chiado de folhas, era mais uma manga que caía, era o sinal. Todos corriam; a manga era o prêmio ao melhor corredor. Depois a pelada continuava na rua. Destes peladeiros alguns chegaram até ao futebol profissional .
A noite era das piadas, anedotas “cabeludas” contadas pelos garotos mais velhos. Nem me peçam pra repetir. As horas corriam velozes. Logo, de alguma janela, alguém gritava: - Hora de entrar pra dormir!
Depois, na rede, o pensamento voava. Havia uma garota linda, chamada Evane, por quem eu nutria uma grande e precoce paixão. Ficava lembrando que estivera tão perto dela que quase a tocara, e que uma vez olhara pra mim. E me detinha em reviver dezenas de vezes aquele momento de suprema felicidade. Era como se já existissem os modernos “replays”.
No outro dia tinha que acordar cedo para ir tomar leite “no peito da vaca”.
Depois de velho, aprendiz de poeta, assim me reportei àqueles momentos:
O PRIMEIRO AMOR
A rede tremia levemente
Enquanto um soluço dali se escapava.
Dentro dela, encolhido como um feto
Que no útero da mãe estivesse,
Alguém se contorcia e chorava.
E o motivo de tal sofrimento
Até hoje me causa espanto.
Tinha apenas dez anos,
Como podia eu tão cedo
Já de amor sofrer tanto?