Um futuro através da janela
Estava eu passando de carro, ainda de manhã. Como se fosse coisa do destino alterei meu caminho, fui pela avenida mais movimentada, ao final dela havia um cruzamento e nele um semáforo. Ainda no amarelo acelerei com o intuito de não parar no sinal. Porém, a avenida estava bastante movimentada e não deu tempo.
Ao longe eu vi uma criança, no meio da avenida, passando de carro em carro pedindo algo. Quando ele estava vindo ao meu encontro pensei “deve ser nada demais somente mais alguém vendendo doce no sinal”, mas quando ele bateu em minha janela congelei, como se aquilo fosse um assalto, não havia escapatória, estava certado de carros por todos os lados.
A criança descalça, vestindo nada mais do que trapos e sujo dos pés a cabeça. Ela continuava a insistir, a bater em minha janela. Aparentava ter nada mais do que 8 ou 9 anos de idade. Já tinha visto esse menino antes deitado numa caixa de papelão, em uma praça ali perto.
Por insistência abri a janela com o coração saindo pela boca. Quando abri ele pediu alguns trocados, logo pensei que alguém estava se aproveitando da criança para conseguir dinheiro. Mas e se fosse para algo importante? Perguntei a ele para o que seria, ele me respondeu que seria para pagar a escolinha. Tive minhas duvidas, mas entreguei um punhado de moedas. O sinal abriu, a criança me agradeceu e eu nunca mais o vi nem ouvi falar dela.
Anos mais tarde, quando passei pela mesma avenida o sinal ainda amarelo, eu acelerei, o problema é que acelerei demais, perdi o controle do carro e dei de cara com um caminhão. Acordei no hospital. Quando eu vi o rosto do doutor estranhei como se eu já houvesse visto aquele rosto antes. Mais tarde, naquele mesmo dia descobri que o médico era o garotinho do sinal e que em todos aqueles anos eu era o único que havia aberto a janela. Não a do carro, mas uma janela para a oportunidade de um futuro melhor.