IMPLACÁVEL TEMPO



Ouço sempre, que o tempo é implacável. E penso, viajo nas suas prováveis ou possíveis tiranias, buscando um jeito de amenizar sua austeridade.

Sei que ele não para, seguindo sempre e infinitamente em frente, indiferente a tudo. Não olha para trás jamais, sempre e imperiosamente altivo, imponente sempre. Insensível ao arrependimento de quem quer que seja. Disso eu sei.

Também sei que ele desgasta, corrói. Do ferro, que consome aos poucos, até a pele, que enruga, desgasta e marca o teu tempo, sua quase tirania.

Sei também que por vezes é benevolente às memórias, que vigoram independente das suas vontades. Se ele não se volta às costas, nós temos, em compensação, a saudade, para afrontar a sua insensibilidade. Se ele não para, nós temos o arrebol para nos darmos o direito de pararmos por momentos, supondo que ele também para.

Sim. O tempo é implacável. Não perdoa, não se deixa levar por nada que não seja o futuro. Soberbo, despreocupado, alheio as vidas e as coisas todas. Simplesmente segue, segue, segue...

E pensando assim é que vivo a correr ao seu redor. Concluí que consigo desdenhá-lo, ora volto ao passado, usufruindo da memória que ele não tem. Ora me projetando em sonhos que ele também não tem. E sonho e viajo a sua frente, muito além da sua impertinência.

Ele é implacável sim. Eu sou poeta. Se ele me desgasta fisicamente eu o abuso brincando de roda para fazê-lo tontear.