FESTA DE NATAL

FESTA DE NATAL

BETO MACHADO

Quando da sua juventude aquele ancião já se apropriava da desconfiança de que, dali pra frente, as festas de NATAL e de FINAL DE ANO tenderiam a levar, os que resistissem às dificuldades da sua Aldeia, a um estado de quase indiferença em relação a esses acontecimentos. Prova disso eram seus pais. Faziam o de costume, sem empolgação. O trivial. Não, que não gastassem de castanha, nozes, pane tone. Não, que não apreciassem um bom vinho, muito menos que esses e outros itens natalinos e seus preços enxertados com escorchante e aleatório ágil não coubessem em seu orçamento. Não... Já naqueles remotos e verdes anos, vovô Miguel, beirando os noventa, lembra --- “A graça do Natal do meu tempo ficava por conta dos jovens. A gente fazia uma bagunça sadia. Não tinha casa que não recebesse a gente com comida, bebida e carinho trocado espontaneamente”.

Muito mais que a fartura de guloseimas e bebidas, em excesso, a confraternização e o entrelaçamento da vizinhança era o ponto culminante daquelas noites de altíssimos decibéis pelo ar, onde o som dos fogos de artifício competia com o dos aparelhos de som, cujas caixas acústicas se exibiam sobre muros, nos quintais, nas calçadas, servindo até de aparadores de garrafas, copos e pratos de salgadinhos. As músicas compostas para a ocasião concorriam com os sambas de enredo das escolas de samba, para o desfile do ano seguinte, assim como as inéditas de Roberto Carlos. Mas lá atrás, os sinais de mudanças já se expunham. Aqui e ali começava a espocar o som, não só de fogos, mas também de estampidos, misturados na festança das pessoas de boa fé. E o que temos hoje é tudo o que sobrou. Sirvamo-nos.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 23/11/2014
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