AS MULETAS
No ônibus, vi uma mulher sentada a minha frente com duas muletas no canto da sua poltrona. Com muita pena, pensei:
-Coitadinha! Tão nova e já tendo que usar muletas! Que Deus lhe dê forças para suportar esse problema de saúde.
O coletivo foi pegando os passageiros na estrada, sem pressa nenhuma, e eu não parava de interceder pela minha companheira de viagem.
Por fim, chegamos à rodoviária de Colatina.
-Quer que eu leve a sua bolsa?
-Quero, sim. São aquelas duas ali.
Peguei a minha bagagem, as da enferma e pensei:
-Como pode uma pessoa com deficiência física carregar tanto peso assim.
Fora da condução, com um suspiro de alívio, coloquei tudo no chão e esperei a passageira, que desceu toda faceira com as muletas jogadas no ombro.
-A senhora não é aleijada?!
-Não! Deus me livre!
-Então, para que essas muletas?
-São para a minha cunhada, que operou o joelho.
-Mas a senhora não me disse nada.
-Dizer o quê, dona?
-Suas bolsas estão aqui. Passe muito bem.