JOGOS VORAZES 1. PARTE E O CINE GUARANY

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Palmas, vaias e assobios e torcida pela mocinha do filme “Jogos Vorazes – 1a parte”, transportaram-me mentalmente para dentro do Cinema Guarany, no final da década de 70 e início de 80, quando assistia filmes de Tarzan, Mil Máscaras, Mini Maciste e outros que permaneciam durante 30 dias sendo exibidos em Manaus e os amigos faziam a mesma coisa, entre eles Jorge Lopes da Silva, Agripino e outros do Colégio Dorval Porto, que não lembro mais, todos adolescentes, na faixa etária de 13 a 14 anos. A única diferença do Cinema Guarany, além das poltronas de madeira que existiam naquela época para as acolchoadas que existem hoje no Cinema do Manauara Shopping, eram as pessoas utilizando aparelhos celulares, conferindo mensagens em facebook, whatsapp e outras redes sociais.

O filme em si é bom, mas só para quem assistiu o primeiro “Jogos Vorazes” porque não entenderá a sequência. Também o final do filme não agradou a muitos que aplaudiam, vaiavam ou assobiavam porque termina de forma estranha, dando a entender que haverá uma segunda parte da produção.

No final da década de 70 e início dos anos 80, a tecnologia do celular era impensada para o Amazonas que dependia da Camtel (Companhia Amazonense de Telecomunicações) e Telamazon (Telefonia do Amazonas S/A) para conseguir completar ligações, usando fios e pinos, cheia de moças que faziam o trabalho de conetar o fio no plugue do telefone da residência que havia pedido o interurbano. As vezes, se pedia um interurbano de manhã e só era completada no horário da tarde. Os telefones residenciais de quatro dígitos, eram caríssimos e só os mais ricos podiam adquiri-lo. Era tão caro que podia ser pago em prestações, no em carnê. Eu adquiri minha primeira linha telefônica e andava com meu carnê de dez prestações na bolsa que usava para trabalhar no jornal A NOTÍCIA.

Um dia, almoçando no quartel do Comando da Rádio Patrulha, o aspirante Sirotheou comia e colocava osso de galinha dentro dela. Eu não via, mas ouvia os risos dos outros aspirantes à mesa porque percebiam o que o colega estava fazendo comigo. Perdi quase todas as anotações daquele dia para A NOTÍCIA, que se encontravam dentro da bolsa, mas consegui salvar o carnê de pagamento do meu primeiro telefone. Era um tesouro para mim!

Entrei no túnel do tempo e todas as vezes que ouvia manifestações dentro do cinema, falava para minha esposa Yara Queiroz e meu filho Carlos Costa Filho, que as vaias, assobios, palmas e risos me faziam lembrar a época do Cine Guarany que meu filho não conheceu e minha esposa, que tem a mesma idade que eu, se lembrava muito bem e dizia: “eu também”. Meu filho se irritou e disse que se eu repetisse mais uma vez que tudo me lembrava os filmes que assistia nas décadas de 70/80, ele ficaria chateado comigo. Fiquei calado, mas só imaginando a minha adolescência despreocupada, mas responsável.

Vendia jornais durante a semana toda, separava “o lucro”, calculando o número de passagens do mês, separava os valores que teria que gastar, guardava o dinheiro do cinema e colocava em um cofre uma parte para depositá-lo na caderneta de poupança Socilar. Tudo o que recebia em qualquer venda que fizesse, sempre fazia esse mesmo cálculo e, quando não tinha dinheiro nenhum para comprar os ingressos, pedíamos ao Jorge Lopes da Silva para recolher garrafas escuras de cervejas, lavá-las, almoçar 10 horas, levá-las em um saco e vendê-las no Pavilhão São José. Quanto mais escura fosse a cor da garrafa e a limpeza dela, tinha um valor diferente. Com o dinheiro na mão, Jorge Lopes entrava na fila do cinema, na Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Manaus e fazia volta na Avenida 7 de Setembro, principalmente em dias de estreias de novos filmes. Mas costumávamos assistir filmes já visto antes. Os de Tarzan, principalmente!

Todos juntos, descíamos do ônibus de madeira em uma parada na Avenida Getúlio Vargas, parávamos em algumas bancas, comprávamos revistas de Tarzan, Tex Ranger e de Brigite Montefort e seguíamos em algazarra para encontrar o Jorge que já nos esperava com os ingressos na mão. Quando não conseguíamos comprar ingressos para todos, esperávamos o filme começar e entravamos por um portão lateral de madeira que existia ao lado e passávamos por baixo do pano de projeção e sentávamos rapidinho porque não queríamos ser retirados pelos “lanterninhas” que existiam dentro do cinema para clarear as cadeiras de madeira.

Lembrei de tudo isso enquanto assistia ao filme “Jogos Vorazes 1a parte”, sentado em uma confortável poltrona achoada, lembrando das que existiam no cinema Guarany, em madeira. Ah, como foi gostoso lembrar de um dos melhores cinemas de Manaus, pertencente ao empresário Adriano Bernardino, destruído pela ganância do capital financeiro para dar lugar ao Banco Itaú no mesmo local, mas hoje totalmente diferente do que era. Do outro lado da Avenida Sete de Setembro, existia e ainda existe a fachada do Cine Polyteamma, do mesmo empresário, mesmo funcionando com várias lojas comerciais, foi preservada. Ainda bem!

É pelo menos uma parte de minhas lembranças sendo preservadas. As do Guarany, agora, só em fotos e saudosismos do passado, que sempre me ocorrem. Vivo no presente que destrói as lembranças e constrói minhas desilusões, porque nada é preservado para as novas gerações!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 21/11/2014
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