ATINGIU O BOCAL
Em Colatina, Célia entrou no ônibus e sentou-se na primeira poltrona atrás do motorista. Ao seu lado, também no canto, estava uma loira de farmácia com as mamas avantajadas, decotão e minissaia.
Na saída da cidade, entrou um senhor sorridente e sentou-se ao lado da jovem.
-Está quente hoje, não é menina bonita?
-É. Acho que vamos pegar chuva na estrada.
-Você é daqui, lindeza?
-Não, Senhor. Vim visitar o meu pai, que está doente.
-O que ele tem, formosura?
-Ele está velhinho, não anda e nem fala mais. Coitadinho!
-Igual à Lilita, minha esposa. A infeliz teve um derrame tão forte que atingiu o bocal.
-Como assim?!
-Ela não fala uma palavra por menor que seja. E o pior é que, da cintura pra baixo, ela não presta pra mais nada.
-Coitadinha!
-Coitadinho de mim! O que vou fazer com uma mulher nesse estado?
-O senhor está certo.
-Por favor, tetéia, não me chame de senhor, viu? Senhor está no céu e eu estou aqui, bem pertinho de você.
A senhora foi escutando aquela conversa mole até Vitória.
-Onde você vai saltar, florzinha do campo?
-No centro da cidade e o senhor, digo, e você?
-Coincidência. Vou descer no mesmo lugar.
-Que bom! Tenho medo de ser estuprada de novo.
-Que maldade, doçura! Como foi isso?!
-Numa madrugada, estava voltando de um baile funk e quatro rapazes me agarraram. Dei queixa na delegacia e sabe o que o delegado me perguntou?
-Não. O quê?
-Se eu fui feliz.
-Miserável! Logo você, uma menina tão pura! Tão inocente! Tão...
Célia desceu no seu ponto imaginando o fim daquele papo furado.
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