Cavalos-de-Santo
Tenho que recorrer de novo.
Há um célebre escritor que nos lembra da existência dos cavalos-de-santo, na época da ditadura. Tratavam-se de “inocentes rapazes só desejosos de fazer uma boa e rápida carreira acadêmica”. Contudo, sendo brasileiros, foram “dissuadidos de estudar qualquer tema socialmente relevante”, face ao risco de serem “presos, torturados, sequestrados e até mortos” em função disso.
A saída que tiveram para a finalização dos seus cursos e da vida acadêmica foi a de se “converterem em porta-vozes de prestigiosos mestres estrangeiros”. Transformando-se assim em autênticos papagaios de realejo, capazes de reproduzir no Brasil e no exterior resultados de estudos que faziam, por exemplo, os brazilianistas, normalmente cidadãos americanos com autorização para a discussão de assuntos de relevância social. O que era vedado aos brasileiros. Ficando os cavalos-de-santo na contingência de repetir as conclusões a que os primeiros chegavam.
Quem nos lembra disso é o antropólogo e intelectual Darcy Ribeiro. Que ainda hoje não deve ser simpático aos que defendem a implantação de uma ditadura militar no país, que nos possa livrar dos males da corrupção na Petrobrás ou em quaisquer outros nichos. Quando essa corrupção, ultrajante e repulsiva, e que o governo quer minimizar, tem outros meios de ser extirpada ou reduzida. Bastando que sejam postos em prática os princípios básicos da democracia. Princípios com os quais nenhuma ditadura militar consegue conviver.
Na época dos famigerados governos militares teve gente que foi presa apenas porque falava russo!
Rio, 20/11/2014