SOBRE O AMOR, A VELHICE E A SABEDORIA.

A velhice infunde medo e depressão?

A velhice existe para alguns e é indiferente para muitos quando aplaca o vigor e pacifica o espírito. Nessa quadra da vida os que tiveram a sorte de galgar o alto da montanha como seres caridosos, terão a grande visão da existência.

Só os que a percorreram intensamente sendo úteis, construindo, sendo iguais e perseverando no bem, na caridade, despojados de egoísmo, lutando e vencendo, ou ao menos se retiraram para a iluminação, poderão saboreá-la, extrair dela os verdadeiros benefícios, usufruir seus ensinamentos e viver em absoluta paz e felicidade voltados para a luz do seu interior, imersos na chama do elo único que se aperfeiçoa na paz conquistada.

Assim será possível para o ancião olhar o passado e rever a longa caminhada quando aos vinte anos se consagrava aos estudos e ensinamentos e aos trinta continuava firme já então podendo entender o que estudou; divisar aos quarenta anos, a época em que afinou seus sentimentos já restando poucas dúvidas sobre o existir, abrindo a porta aos cinqüenta, quando compreendeu os decretos do céu possibilitando que aos sessenta, quase esgotado o caminho do entendimento, alcança-se a compreensão e fosse um receptor da verdade, culminando a jornada com a felicidade aos setenta de ter o coração acima do cérebro; tudo podendo fazer sem violar o que é justo. Um caminho confuciano, como ensinou temporalmente o grande mestre.

E sobre essa força criadora chamada amor, qual sua compreensão?

Certa vez, na caminhada da vida encontramos o “amor” e este questionou qual era nosso conceito sobre ele, como agora ocorre, ao que obteve resposta de que era a força que impulsiona e move toda a natureza.

E da vida percorrida, dessa quadra de pouca sabedoria amealhada, ainda ausente de larga compreensão após muito estudo e reflexão, estrada construída de muita ascese e meditação, adjetivou-se em largo espectro a imensurável força criadora do amor, afirmando que nada existia na terra longe de sua influência, de sua criação.

Na sua gênese (vida, construção, criação) repousariam o bem e o mal, o ponto divisório, o Deus Mani (Maniqueu), nascido da crença surgida na Pérsia. Como todo desenrolar da vida, agruras, dificuldades e sofrimentos conviveriam com as alegrias e exaltações luminosas. Os bônus e os ônus, a permanente moeda de duas faces, onde uma tristeza faz lembrar que se era feliz e não se sabia, quando o mar da felicidade se multiplicava em ondas permanentes na praia da vida e subitamente uma onda maior trouxe a devastação, gerando sofrimentos que apagam toda a extremada felicidade vivida.

No vértice da pirâmide são mensuráveis por serem valorados na conturbada caminhada humana, os dois lados, as duas facetas, marcadas pelo destino, pelas leis da natureza e pelo convívio em todos os relacionamentos e graus. Isto nos relacionamentos aceitos, tolerados ou expurgados, e também nos punidos pelas leis dos homens impostas a todos e que obriga a todos, ou ainda pela ética não coercitiva, obrigatória, ou ainda nos relacionamentos exaltados e reconhecidos sob elogios no altar do reconhecimento. Sob este ângulo despontam valores ou ausência dos mesmos, onde se inserem e podem surgir o bem e o mal, o amor e o desamor. Este o divisor que caminha de mãos dadas pelo princípio da escolha, do livre arbítrio, o bem e o mal.

As condutas que indicam o mal e o bem seriam os primordiais elementos da equação da vida. Definiriam o bom e o mau caráter, porém a força do amor não se apaga nunca, prevalece sempre, logo que o mal consome e o amor multiplica.

Por isso, em nome do amor, sentido maior do centro do universo, os valores do ser e existir, positivos e infinitos, se encontram e criam formando vidas, núcleo gravitacional de tudo e de todos, aproximando iguais e desiguais em bens materiais, talentos e inteligências na cadeia da fraternidade, do amor ao próximo e principalmente das afinidades. Daí não se apagar nunca o amor, sendo a maior força criadora. Nada se lhe pode opor, o bem vivifica, o mal sucumbe.

Água misturada ao vinho retira o sabor de ambos, mas sobrevivem isolados em suas características se apartados; cumprem seus papeis. Da mesma forma, o bem e o mal, não são nunca próximos, por isso não há interlocução de seres que não são afins tendo tais paralelos como referência.

Mas o maior amor está acima de qualquer valor emocional, ele é palpável, o amor com ou sem fronteiras, e este, superior em todos os sentidos, está acima de sangue ou afinidades, é aquele que nos faz sentir a proximidade de Deus e nos emociona, quando se é apanhado ajudando quem verdadeiramente precisa de ajuda e nos é desconhecido, sem rosto íntimo, deserdado da sorte, desprotegido de todos, e o fazemos por impulso pessoal e espontâneo nas ruas, solidários com velhos, aleijados e pessoas com fome (desconhecidos). Se nossa consciência se ausenta da ajuda, depois de alguns passos a frente sem atender à anterior súplica, volta-se movido pelo amor e pela consciência, nosso maior tribunal, a Lei Moral, que nos assinala a omissão e pela extrema vontade de ajudar, mais forte e incontrolável, concretizando-se o auxílio, levando o necessitado a saciar sua fome, interrompida a caminhada ou afazeres acertados, tornando o auxílio para estes esquecidos uma realidade.

Esta a grande jornada da vida que retribui estarmos aqui neste planeta; só assim pode-se compreender maravilhas que passaram por este mundo com almas nobres dedicadas exclusivamente a trabalhar para o necessitado, com existência doada ao próximo. São seres grandiosos interiormente a que não temos réstia de acesso.

Esta a senda da justiça do Cristo, de seus discípulos e antecessores de mesma doutrina (a caridade sem trocas, mesmo emocional), do verdadeiro amor ao próximo, desinteressado como o amor materno e paterno. Esse amor que é alegria e sofrimento, que só é conhecido pelos que vivem sua presença, e buscam inevitavelmente, por força interior, a caridade em impulso irresistível que não se pode afastar.

Da mesma forma que o amor surge construindo também leva à destruição no caudaloso rio da vida. É bálsamo e sofrimento, esperança e angústia, alegria e tristeza, certeza e indecisão.

Mas no julgamento de Salomão - o sábio dos sábios, que Deus abençoou com todos os bens em profusão, a ponto de outros reis ficarem extasiados diante de tanta riqueza e sabedoria, com o luxo e o fausto com que se vestiam até mesmo seus escravos – na forma como aconselhava sua sabedoria aos reis que não guardavam valores indispensáveis, a bondade, mãe da caridade, era a primeira e última razão de tudo.

Salomão deixava claro que a bondade e o amor ausentes nos que governavam, sofreriam o rigor do julgamento máximo de Deus.

E assim disciplinou de suas observações sobre o desenrolar dos tempos, do seu reinado que restou para a posteridade em legado de tesouro imperecível nos "Provérbios", "Cântico dos Cânticos" e "Eclesiastes", livros exponenciais bíblicos.

No primeiro, tinha como tema recorrente o temor a Deus. Tinha consciência de que a sabedoria perderia seu sentido se não fosse guiada, especialmente em termos éticos e morais, pelo temor a Deus, somente adquirido através do estudo da Lei e da prática de atos de bondade. Nisto, era pródigo.

E não só nos que governam impõe-se exercer a bondade, a caridade, mas em todos que têm obrigação com seus semelhantes, pregava o filho de David, por este escolhido para reinar entre seus muitos filhos.

Olhemos a nossa volta quanta indiferença se espraia no mundo nos relacionamentos de sangue e emotivos. Pais com filhos, filhos com pais, companheiros com companheiras, irmãos com irmãos. Quantos pais abandonam os filhos, lhes negam alimentos; quantos filhos se lembram de acarinhar os pais, socorrê-los quando velhos, agradecer por tudo que lhes deram e por eles fizeram? Se já se foram, quantos lembram deles (dos pais) em suas orações? Quantos reverenciam suas memórias mesmo que não sejam devedores de maior assistência material?

E o quê dizer do amor da companheira e do companheiro, que deve ser leal e respeitoso, que não deve trair nem afrontar e muito menos subjugar, que como adverte Gibran em “O Profeta”, que bebam juntos, mas que haja espaço para não precisarem beber no mesmo cálice. Se esse amor é traído sem compromisso de afetividade, com o sabor carnal exclusivo, pelo homem ou pela mulher, que pelo menos deixe-a (a traição) sob os véus para não ferir tão profundamente a quem se deve no mínimo, respeito.

E aos irmãos nosso desvelo em todos os sentidos, solícito e presente sempre, sem o que ficamos expostos às penas da consciência, se a temos, e do nosso particular juízo final.

Resta o conhecimento puro e simples que estabelecemos na vida com muitos seres humanos, fora do âmbito familiar, na vida profissional e coloquial, a maioria das pessoas de nosso relacionamento, muitíssimas vezes pessoas diametralmente opostas a tudo que somos, representamos e pensamos, algumas planetariamente distantes em princípios e por vezes muito próximas. E convive-se, sem muito esforço.

Conviver não é admirar e ter respeito, é estar junto. É preciso admirar o caráter do que esteja próximo para recebê-lo em nosso sacrário interior na “Jornada da Vida”, não basta conviver, conseqüência social. Conto em poucos dedos de uma das mãos os que posso receber em meu interior com admiração, por serem bons de coração, úteis aos semelhantes, não egoístas, superiores em ação e conduta, bondosos e caridosos como ensinava Salomão.

Termino com Salomão, que das suas observações sobre o desenrolar dos tempos, concluiu que "nada é novo debaixo do sol" e, deplorando a frivolidade humana, declarou: "Vaidade de vaidades. Tudo é vaidade".

O que vejo, com soma majoritária, é vaidade e tolice; vaidade na desimportância, tolice na pretensão, e pior, pouca utilidade e nenhuma bondade.

Olhar ao longe o encontro do infinito com o céu, como no mar, traz horizontes largos e aplaca as desordens da angústia e da revolta por tudo que vemos e não podemos melhorar, por falta de caridade, de bondade, de amor enfim. É o que faz a maturidade vendo nesse encontro a razão que encontra a claridade.

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Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 20/11/2014
Reeditado em 20/11/2014
Código do texto: T5041738
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