TEMPESTADE

Sentado na relva eu avisto no horizonte nuvens negras, aproximando-se. O bom senso diria: "- Procure um abrigo". Mas ignoro minhas percepções básicas e fico imóvel, esperando a tempestade chegar.

Vejo que aves migrando para o lado oposto, assim como um animal que, pela distância, não consegui identificar... a natureza, apesar de não provê-los de consciência cognitiva, deu-lhes instintos básicos, especialmente de sobrevivência.

Sinto o cheiro de terra molhada... o que era uma brisa tornou-se um vento que espalha por todos os lados folhas... a cada momento, mais forte torna-se o deslocamento de ar... agora acompanhado por gotas geladas de chuva.

Os primeiros trovões ecoam ao longe, e permaneço imóvel, parado... não penso em nada... a nuvem negra agora paira sobre mim.

Começam a cair granizos... um, dois... milhares... o vento virou vendaval... sentado, sinto que a terra não consegue absorver a chuva, criando um espelho d'água natural. As pedras de gelo me atingem, mas não ao ponto de me machucar com maior seriedade.

Fico surdo com um forte estrondo logo atrás de mim... quase sou jogado para frente. Um pouco adiante, vejo um raio se desenhar no céu... indescritível. E mais um trovão arrebatador.

Não enxergo mais nada... estou no centro da tempestade. Sinto o vigor da Natureza castigando o meu corpo, a minha alma... mesmo que quisesse, não poderia mais sair do lugar que escolhi ficar.

Poderia ter acompanhado minha lógica, ou mesmo os animais... mas eu fiquei aonde eu devia ficar. Só conseguimos provar que somos fortes quando enfrentamos os desafios... poderia não enfrentar esse, mas decidi que era uma prova de fé, para revigorar o meu espírito tão fragilizado.

Não sei quanto tempo se passou: vários minutos, uma hora... mas aos poucos a tempestade foi me deixando para trás... na minha frente, as nuvens eram cinzas.

Me levanto, e olho o estrago: galhos partidos, árvores caídas... e apesar de estar com frio e com alguns hematomas, começo a raciocinar na experiência que passei.

A vida é um elemento frágil demais para ser desperdiçada... mas ao mesmo tempo, se não for a vontade de nosso Senhor, algo muito grave poderia ter acontecido... mas não aconteceu.

Todos nós enfrentamos tempestades... e cada um lida de determinada forma... procurando abrigo, de peito aberto... ou mesmo empinando uma pipa, como fez Benjamin Franklin.

Faço alongamento... minhas costas estão doloridas, assim como o resto do meu corpo... não há mais tantas poças visíveis... sinto aquele incômodo que prenuncia que vou ficar resfriado... estou com calafrios.

Porém, antes de retornar eu olho mais uma vez para o horizonte... vejo o sol e um arco-íris, e lembro da passagem em que Deus fez a aliança com os homens... todos nós somos o Seu povo.

Meu caminho de volta é na mesma direção da tempestade... mas ela está se deslocando muito mais rápido que meus passos...

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 19/11/2014
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