VOLTAS QUE A VIDA DÁ

É interessante como a vida às vezes nos faz reviver certas lembranças e vivências, embora muito tempo já tenha se passado.

O meu pai, após reformado da PMMG, para complementar renda, costumava fazer uns biscates de carpinteiro e marceneiro. Afinal, ele era o único provedor de uma família numerosa: ele, minha mãe e mais 11 filhos.

Dentre outros o seu trabalho constava de assentamento de portas, janelas, forros em madeira, confecção de balcões para mantimentos construção e reforma de telhados e consertos de móveis diversos.

Era costume dele sempre levar um de nós para auxiliá-lo e à medida que os mais velhos iam-se encaixando em trabalhos formais meu pai os substituíam pelos mais novos, em ordem decrescente.

Dessa forma, também tive o meu tempo de “secretariá-lo” em muitos dos seus trabalhos.

Um dos lugares em que estive ajudando o meu pai foi na “casa do Jair”, um velho conhecido dele.

Na ocasião eu devia ter entre 12 e 14 anos de idade e hoje tenho a expectativa de completar 58 anos em 23/10/2014.

Agora, também com o fito fazer face às despesas extras, eu presto serviços de pintura e outros para as pessoas.

Estando trabalhando na casa de conhecidos, fui notificado pelo proprietário que uma vizinha desejava que eu realizasse serviços de pinturas em sua casa.

Ao visitar o local percebi que se tratava de uma das casas na qual eu estivera com o meu pai há aproximados 45 anos e que a referida vizinha – a senhora Marizia - era a esposa do hoje falecido Jair.

Ocorreu-me então uma autoindagação: passados 45 anos, tendo você se formado em curso superior e feito tantos e variados cursos, dentre eles 2 de pós-graduação, você não evoluiu? Continua sendo um serviçal?

Quanto a ser um serviçal sim, pensei. Essa é uma de minhas facetas que exerço com orgulho. Entretanto não ter evoluído, definitivamente não. Com isso eu não posso concordar.

Pessoalmente considero que evolui muito de lá para cá, a começar pela capacidade de ter me readaptado, sobrevivido a tantas ameaças, riscos e exposições, com uma saúde e disposição invejáveis.

É exatamente na capacidade de se adaptar às vicissitudes da vida e de suplantá-las, que está o grande segredo da sobrevivência, longevidade e perpetuação da espécie. Sem essa capacidade, mutilação e morte poderiam sobrevir na primeira circunstância adversa vivida.

Quantas pessoas por se considerarem mais elevadas intelectual e profissionalmente não se submetem a trabalhos ditos “menores”, aprisionando-se no próprio orgulho e com ele sucumbindo?

Confesso que essas atividades além de prazerosas para mim, têm-me permitido vivências e convivências únicas e inimagináveis. Além do mais, sou convicto de que, para alcançar o futuro que a mim está reservado, eu tenho que estar exatamente onde estou, fazendo o que tenho feito, pois, como dizem as escrituras: “Deus escreve certo por linhas tortas”.

Não bastasse tudo isso o meu pai terreno nos criou a todos para sermos íntegros e servir.

Tenho a certeza de que seguir os seus valorosos ensinamentos, é a melhor maneira de honrá-lo.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 19/11/2014
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