O fim

   Antes, muito antes de o corpo adoecer.
Muito antes da  morte, morre-se na alma.
Tenho observado isto à medida que avanço no tempo.
O incrivel, é que essa morte interna, antes de ser -
assumida pelo sujeito, é decretada pelo olhar impla-
cável de outrem.

No caso aqui abordado, se a vitima for um idoso que além de ter vivido por longos anos, aínda tem um temperamento efusivo, o qual nem os percalços do tempo conseguiram amainar, aí tudo toma dimensões
gigantescas...
Como pode um corpo decadente contracenar com arroubos juvenis? Perguntam os preconceituosos senhores da beleza e da juventude de plantão...
Mas o pior é que tudo é feito de forma sutil, orquestrada e insidiosa.
Ai do idoso que acorda turbulento "só" porque lá fora
e no seu interior o dia  amanheceu ensolarado...
Assim é que pouco a pouco a alma vai envelhecendo,
se recolhendo, até que ao chegar ao mais profundo do ser, a morte lança raizes para fóra... Canto dos olhos 
postura... É um processo lento mas doloroso e eficaz.

O preconceito é algo mais diabólico do que anuncia sua cara lisa e dissimulada. Ele traz o estigma da morte.
Cresci vendo estarrecida meus avós serem discriminados à medida que envelheciam. Nada que
se compare aos dias de hoje. Hoje percebo que alegria está associada à idéia de juventude. Apanágio
de corpos sarados, esculpidos, mesmo que custe uma
pequena fortuna e muitas vezes até a própria vida

Será mesmo que alegria, sucesso, nos dias  atuais
condizem apenas, ou de forma muito especial com aquele sorriso de facebook? Aquele que parece querer dizer algo(?), mas soa tão superficial como... Como um belo jardim estéril o qual ostenta sua grama
sempre aparadinha... Não precisa nem regar. Ou como
uma bela mansão. Sim, uma linda casa que por dentro
não tem nada. Nada? Não... Espelhos!! Muitos, muitos espelhos. Não é o fim?