Camisas azuis costuradas a mão
Domingo, 29 de junho de 1958. Em Estocolmo, Brasil e Suécia disputaram a final da copa do mundo de futebol e a seleção brasileira venceu. Foi campeã pelos pés de homens que entraram para história mundial do esporte como Pelé, Garrincha, Djalma Santos e outros. Foi o início de um ciclo que faria o Brasil ser reconhecido mundialmente como o país do futebol
Detalhes curiosos, porém, deste feito, são desconhecidos pelo grande público. Que a seleção partiu desacreditada pela torcida e xingada pela imprensa já sabíamos, pois isto se repete a cada quatro anos. As novidades, pelo menos para mim, se referem ao fardamento com o qual os brasileiros foram campeões.
A seleção da Suécia usava o uniforme das mesmas cores: camisas amarelas e calções azuis. Através de sorteio, os suecos obtiveram o direito de usar seu fardamento oficial e os brasileiros precisaram improvisar. Como? Mandaram confeccionar ali mesmo, às pressas, ao preço de 35 dólares, camisetas azuis. A desconfiança com a cor foi resolvida pela religiosidade. Afinal, azul era o manto de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. A equipe técnica passou a noite inteira costurando os números e o escudo da CBD. E assim, o Brasil foi campeão mundial de futebol, pela primeira vez, usando camisas azuis costuradas a mão.
Tal improvisação é impensável nos dias de hoje, quando o futebol abandonou de vez a arte, adentrou o campo empresarial e as camisetas se tornaram veículo de propaganda. Os uniformes são confeccionados por empresas especializadas e envolvem contratos milionários que obrigam os jogadores a participar de comerciais e eventos, usar bonés, mochilas e, pasmem...cuecas. Os patrocínios vieram para ficar e são de grande importância no desenvolvimento dos esportes e na promoção da cultura, mas seus excessos são discutíveis. No futebol, por exemplo, o grande número de atividades e a exposição exagerada podem esvaziar o protagonismo do esporte, tirar o foco dos atletas e comprometer os resultados.
O futebol brasileiro conheceu glórias e fracassos patrocinados, mas a experiência das camisas azuis costuradas a mão precisa ser lembrada. Ela mostrou que soluções simples e baratas podem se eficientes, desde que não haja desvio dos objetivos principais. O jeitinho brasileiro – assim mesmo, sem aspas – pode fazer a diferença.