O valor do riso

O valor do riso

E hoje uma criança me sorriu. E outra criança perto também sorriu. E nós três sorrimos juntos. E foi aquela “risadagem”. E o tempo de ser menino veio à janela. E o cheiro de meninice, de pés e mãos grudentas, pretas. De cabelo assanhado, fala ofegante. Suor por todas as curvas do corpo… Mas uma sensação de dever infantil cumprido que não pede descrição. Registrá-la aqui, com meras palavras seria desmerecedor e precisa ficar na fração criadora da mente de quem me acompanha.

Eu fiquei imaginando como é bom ser criança e como é importante preservar esta fase da vida de todas as maneiras que podemos e com todas as leis, mesmo as exageradas com mi-mi-mi, para que essas criaturas de nenhuma responsabilidade possam perambular pelas ruas, praças, igrejas, terrenos, subidas e ladeiras. Como se aquela bicicleta fora um ônibus espacial rumo à lua. Porque eles pedalam como quem quer chegar à lua em poucos minutos!

Ah, se o mundo deles fosse o meu!

Não posso dar-me o desfrute de correr e suar. A esta altura, não fica bem para “alguém da minha idade”. E eu ainda estou aprendendo como é ser alguém da minha idade. Confesso que às vezes meto os pés pelas mãos. E não meto as mãos pelos pés em razão de estar providenciando a inclusão dessa nova expressão nos dicionários renomados. Tão logo consiga, meterei-as. E que se aguentem os meus pés.

Perdoe-me essas descabidas conversas. Tanto é papo para encher crônica quanto filosofias de escritor iniciante.

Na verdade, devo confessar, trata-se tão-somente de inveja de gente cansada e velha, que sente prazer na felicidade inocente dos outros e tem vergonha de atirar-se à brincadeira e ao riso, como quem não tem hora nem patrão. É inveja pura da felicidade alheia. É porque não há felicidade mais linda

Sorriso de menino revela-se coisa divina. Hoje foi uma bicicleta a autora de tal grande proeza, que parece abalar o firmamento do universo: o menino sorriu, esperou o companheiro montar seu alazão de rodas e catraca, e saíram os dois como Dons Quixotes, a querer rixa com moinhos imaginários fincados nas casas dos vizinhos, a cutucar os dragões que se fantasiavam de sobrados de dois andares.

E os dois… E aquelas bicicletas...

É assim que a humanidade despede-se de suas agruras, afasta-se de suas preocupações, esquece-se por um tempo suas ansiedades, emaranha-se por instantes na teia do prazer, e cumpre, nem que seja por pouco tempo (até que outro dia amanheça), o mandamento do criador, que não está no decálogo por um lapso de comunicação entre divino e humano:

SÊ FELIZ ENQUANTO PODES.

Prof. Luís Eduardo de Almeida