PROCURA-SE
CRÔNICA DE VALDEZ JUVAL
Estela costumava sempre que possível “passear” pela Praça da Sé, tentando uma paquera ou um encontro fugaz.
Até que certa tarde, Felipe, que também não estava ”bem-intencionado”, passou um “rabo de olho” para Estela que foi só o “estalo” para começarem um ligeiro “papo” de apresentações.
Estela contou para Felipe que morava nos arredores da cidade e era casada, mas o marido não “funcionava” mais e ela sempre vinha à Praça procurar trabalho de diarista.
Felipe convidou-a para ser sua companheira já que ele morava sozinho e era encostado definitivamente do INSS. Era inquilino de um quarto no terminal da linha 100 e o espaço acomodaria os dois.
Estela condicionou o relacionamento proposto.
Assumiria o compromisso, mas não teria hora e dia marcados para a permanência dela no seu cubículo.
Assim acertaram e eles passaram a ter vida conjugal sem momentos preestabelecidos.
Felipe, um acidentado do trabalho, não tinha o que fazer e sempre que sua Estela se ausentava, ficava ansiando pelo novo encontro.
Já se passavam quatro meses da convivência dos dois.
Estela, realmente comprometida, tinha seis filhos, mas que Felipe jamais tivera conhecimento. Pelo contrário, conquistava mais o coração do tolo ajudante de pedreiro que se satisfazia com a presença dela, de vez em quando.
A paixão deu margem à confiança.
Felipe contou para Estela que tinha um atrasado para receber do INSS e que pretendia fazer um barraco para eles morarem e estreitarem ainda mais o seu relacionamento.
Estela contestou e disse para seu amado que nem precisava que ele se preocupasse com tal situação, pois já sentia sua imensa felicidade com o seu convívio naquele cantinho apaixonante.
Entusiasmado com o desinteresse da mulher, Felipe falou que compartilharia com ela o que tinha para ser recebido e ela mais uma vez retrucou da participação do dinheiro naquele amor que estavam convivendo.
O tempo passou um pouco e não mais se falou no assunto e Estela foi quem abordou o seu amásio de quando ele iria receber o acumulado do Instituto.
Ele já havia recebido o acumulado na véspera.
Estela propôs para Felipe um relacionamento sexual no estilo anormal, com violência.
De comum acordo, tudo foi preparado.
Felipe se deita e tem seus pulsos e pés amarrados na cama, além dos olhos vedados e a boca entupida de pano.
Pronto para o sexo.
Enquanto isto, Estela munida de uma faca de gume longo e bem afiada, enfia sem dó e piedade na jugular de Felipe e sente com prazer o sangue jorrando e o estrebuchar dele sem ter como se livrar da morte iminente.
Sem preocupação se a vida dele fora ceifada, cuidou imediatamente de revirar as gavetas de uma cômoda velha, único cômodo do quarto, procurando pela fortuna que esperava encontrar.
Revirava tudo do pouco que existia em cada gaveta e a não ser papel velho, documentos e algumas notas de 10, nada mais continha.
Frustração total.
Apressadamente, juntou algumas coisas que poderiam identificar sua presença e cuidou de deixar o local.
Dois dias depois do ocorrido, os vizinhos começaram a sentir um mau cheiro na redondeza e desconfiaram do quarto do Felipe.
O proprietário com sua chave mestra abriu a porta para que todos constatassem o que por certo já esperavam.
O cadáver de Felipe, todo amarrado, começando a apodrecer na cama.
A Polícia, imediatamente chamada, começou a procura de indícios e ninguém sabia informar quem era Estela, única suspeita do assassinato.
Os vizinhos a conheciam, sabiam seu nome, sobre sua permanência e vida marital com a vítima, mas não tinham conhecimento de mais nada sobre ela.
Nos papéis espalhados pelo chão foi encontrada uma fatura de compra de uma cama recém-adquirida mas o endereço de entrega e o carnê de pagamento eram de responsabilidade de Felipe.
O caso ocorreu esta semana na capital de São Paulo. Está em fase de inquérito e Estela está sendo procurada.
Março de 2014.