POR QUE AS PESSOAS SENTEM TANTA VONTADE DE VIVER?

Ontem eu vi um homem comendo na calçada resto de alimento como se um animal rua. Ele comia vorazmente como se aquele resto de comida fosse (e talvez seja) a sua ultima tábua de salvação para sua existência aqui na Terra. Agora vem-me de novo meu velho e conhecido questionamento, que força é essa que temos nessa vida que faz com que nos apeguemos a ela de uma forma tão forte? Que vontade é essa de viver mesmo numa condição tão sub-humana? Que apego é esse que faz também tantos e tantos milhares quiçá milhões de pessoas se apegarem, ter a vontade de viver mesmo que para isso seja submetido a humilhação, as mais terríveis necessidades? Que vontade é essa de pessoas em estado enfermo, sem grandes perspectivas de melhoras se apegar a essa vida, mesmo sabendo que ela é tão desigual e injusta? Onde apenas uns poucos privilegiados realmente aproveitam o que tem de bom desse planeta tão maravilhoso?

Sei que muitos vão justificar pela religião, não discuto religião com ninguém, cada um tem seu direito de pensar, de ter sua crença, entretanto, para aqueles que pensam um pouco além da mesmice, é um tema por demais intrigante.

Nem os mais renomados pensadores como psiquiatras, sociólogos, antropólogos, psicólogos, cientistas sociais em geral se arriscam muito nessa tema questionador, perturbador e ao mesmo inexplicável.

Mas como já toquei num dos meus escritos(não gosto de falar artigo, crônica, pois é para mim por demais pretensioso) o sistema tem seus mecanismos para manter o indivíduo apegado a essa vida, a religião é uma deles, não obstante, isso não explica tudo ou apenas ou quase nada desse emaranhado que é o apego por parte de uma grande parte das pessoas a uma vida, mesmo diante da adversidade. Já ouvi e muito pessoas falarem que um dos motivos seria o medo do desconhecido. Isso explica tudo? Entendo que não, aliás tenho absoluta certeza que não e que os verdadeiros motivos estão submersos.

Em um livrinho da coleção Filosofia: o prazer de pensar, Luis Cesar Oliva, nos presenteia com seu livro "A existência e a morte", ele desenvolve por intermédio de Sêneca sobre este assunto da existência e da morte.

Na página 26, encontramos o tema desenvolvido por Sêneca sobre o suicídio. Sêneca trata especificamente do caso de Catão que ainda jovem (95-46 aC) bisneto do sábio Catão, o velho (234-149 aC). Segundo Luis Cesar Oliva, Catão ocupou vários cargos em Roma, sendo sempre admirado pela justiça e moderação com que administrava. Contudo, não tinha simpatia por Cesar pela sua forma de conduzir a política,suas posturas eram bem divergentes, e um desses embates tinha como ponto principal as pretensões tirânicas de Cesar aos princípios republicanos.

Durante o transcorrer da convivência de ambos Catão se aliou a Pompeu, no entanto, com a morte de Pompeu Catão preferiu matar-se a render-se ao inimigo. Então para Sêneca, Catão é o exemplo máximo de suicídio digno.

Mesmo Sêneca dando como virtuoso o suicídio de Catão, ele porém condena o suicídio porque para ele mesmo não aceitando os problemas que a vida apresenta o sábio não deve despreza a mesma. "Se viver não é um bem em si, viver bem é um bem verdadeiro".

"Dai que seja inaceitável, para Sêneca buscar a morte por ter-se horror á vida que se leva. Isso, segundo o filósofo seria uma ingratidão com a Providência pelo presente recebido.

Contudo, Sêneca retoma sobre essa questão mais adiante onde diz textualmente: "O sábio que decide suicidar-se com fez Catão, o faz após longa reflexão, na qual conclui que a persistência da sua vida dependerá necessariamente da aceitação de um mal".

Segundo Luis Cesar Oliva, o estoicismo já concebia o suicídio em três circunstâncias:

a) quando representava um sacrifício em cumprimento de deveres cívicos

b) quando as circunstâncias impediam a pessoa de viver em conformidade com a natureza

c) quando a pessoa se via compelido a praticar atos incorretos.

Percebe-se então tanto Sêneca quanto os estoicistas que na verdade são da mesma corrente, negam o suicídio como mera fuga dos problemas da vida ou da melancolia profunda.

Enfim, o ser humano tem que aguentar e se submeter ao sofrimento, as humilhações, as desigualdades imposta a ele pelos mais espertos. pelos os que tem o poder e seus instrumentos disponíveis para defender-se de qualquer tentativa da quebra da "ordem". O que fazer? Então é só esperar o dia do juízo final ou quem sabe que um cometa caia e destrua toda essa normalidade estabelecida.

inclemente
Enviado por inclemente em 15/11/2014
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