Ei ei ei Samuca é nosso rei
Estivesse a fenomenal Elis Regina viva, teria todo meu apoio para cantar alguns versos de “Como nossos pais” ao técnico da seleção brasileira masculina de vôlei. “Você pode até dizer que eu tô por fora, ou então que eu tô inventando; mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem” encaixa-se surpreendentemente bem no assunto oposto titular do Brasil. Anderson é um experiente atacante e contabiliza vários anos a serviço do selecionado canarinho. Sempre esteve presente nas conquistas mais importantes, mas nunca foi “o” jogador. Aliás, tem sua imagem ligada mais a más atuações (quem não se lembra da partida contra a Bulgária na Liga Mundial de 2004? Bem, eu lembro) do que a boas. Samuel, por outro lado, está apenas começando sua jornada. Apesar da inexperiência que seus 23 anos acusam, ele tem se mostrado apto para desempenhar a função daquele que atua na diagonal do levantador no sexteto titular brasileiro. A insistência de Bernardinho com o trintão Anderson justifica o comentário sobre a canção de Belchior. Já a eficiência e qualidade de “Samuca” justificam o “lobby” de quem aqui vos escreve.
Melhor atacante da Superliga, ele liderou o Minas durante a competição inteira, se tornando ainda mais decisivo ao passo que o título se aproximava. Na véspera do quarto jogo da final, porém, uma notícia abalou não só o atacante como qualquer um que tenha um coração: morrera num acidente automobilístico Andreas, seu irmão. Entretanto, numa demonstração de garra e determinação, Samuel não deixou sua equipe na mão. Entrou em quadra na tarde seguinte e - como de praxe – foi essencial para a vitória do Minas na partida que rendeu o título da Superliga à equipe azul e branco. Não que o episódio acima mencionado seja o principal motivo para a “promoção” do jovem na seleção. Afinal, todos naquele grupo devem ter histórias inspiradoras de como conseguiram chegar à elite do voleibol mundial. Não, esse não é o ponto. A idéia aqui é mostrar como o piá é forte nos dois sentidos da palavra e, uma vez que ele conseguiu superar uma situação tão complicada, um bloqueio russo será fichinha.
Quanto a Bernardinho, é evidente que está utilizando essa primeira fase de competição para testes. Já que a classificação à fase final não está ameaçada (alguém aposta que Coréia, Finlândia ou Canadá pode nos bater?), essa é a hora de botar todos os homens para jogar e ver quais são aqueles com quem pode contar nos momentos do “vamos ver”. Tendo em vista a atuação primorosa no primeiro jogo e a abaixo da média de seu “rival” no segundo, o protagonista desta crônica tem tudo para ser um deles.